segunda-feira, 2 de julho de 2007

Estudos à resistência ao imatinib podem levar a terapia individual para cancros raros

Testes às mutações podem permitir brevemente aos oncologistas adaptar tratamentos

Para pacientes com uma forma rara de cancro, chamado Tumor do Estroma Gastrointestinal (GIST), a terapia com o fármaco imatinib (Gleevec) revolucionou o tratamento. Contudo, o cancro pode continuar a crescer apesar do imatinib, imediatamente em alguns pacientes, e noutros após uma resposta inicial. Um artigo publicado na edição de Junho do “The Oncologist” refere a recente pesquisa das razões da resistência ao imatinib, incluindo resultados que podem abrir caminho ao tratamento individualizado do GIST, num futuro próximo.

Diversas estratégias, baseadas nas novas descobertas, já estão a ser utilizadas em pacientes com doença refractária ao imatinib e pode ser esperado o desenvolvimento de outros tratamentos sistémicos com base nestes novos conhecimentos, conclui o artigo do Dr. Stefan Sleijfer e colegas do Centro Médico da Universidade Erasmus, em Roterdão, na Holanda.

Os Tumores do Estroma Gastrointestinal são tipos raros de cancro do tracto gastrointestinal. Se detectado precocemente, o GIST pode ser tratado cirurgicamente. Anteriormente, os casos mais avançados do GIST eram tratados com quimioterapia standard. Todavia, a resposta não era tão positiva como em pacientes com outros tipos de cancro.

Nos últimos anos, o imatinib tem sido introduzido como uma nova abordagem ao tratamento para o GIST avançado. Foi demonstrado que o crescimento do GIST é despoletado pelo receptor c-kit, que depende de uma enzima, a tirosinoquinase, para exercer a sua função. O imatinib bloqueia a tirosinoquinase do c-kit. Com quimioterapia habitual, somente cerca de metade dos pacientes estavam vivos um ano após o diagnóstico. Com o imatinib metade dos pacientes ainda estão vivos depois de mais de cinco anos.

Segundo o Dr. Sleijfer, parece que muitos, senão todos os pacientes com GIST avançado sofrem de progressão da doença durante o tratamento com imatinib. Os estudos sugerem que existem actualmente dois tipos de progressão. 10 a 15 por cento dos pacientes têm progressão inicial, ou seja, nunca apresentam realmente uma resposta positiva ao imatinib. Na maioria dos casos, esta forma de resistência ao imatinib parece estar relacionada com certas mutações que envolvem o percurso da tirosinoquinase do c-kit. Outros pacientes têm progressão tardia, isto é, no princípio, o cancro encolhe em resposta ao imatinib, mas, mais tarde, a doença progride apesar do tratamento. A causa mais comum parece ser o desenvolvimento de novas mutações que tornam o cancro menos sensível ao imatinib. Outros mecanismos de resistência tardia também ocorrem, e é possível que mais sejam identificados no futuro.

Os ensaios têm avaliado tratamentos alternativos para o GIST resistente ao imatinib, tanto inicial como tardio. Alguns pacientes poderão responder a uma dose mais elevada de imatinib, outros poderão ser mudados para outros fármacos que atingem a tirosinoquinase. Outras estratégias estão ainda a ser estudadas.

Com a descoberta de que padrões específicos de resistência ao imatinib estão relacionados com mutações específicas, o GIST pode tornar-se um dos primeiros tipos de cancro para o qual pode existir um tratamento realmente individualizado. O conhecimento de que os pacientes com mutações do c-kit diferem na sua sensibilidade a diferentes doses de fármacos ou a diferentes compostos, irá contribuir para isto, de acordo com o Dr. Sleijfer e os colegas.

O primeiro passo lógico será fazer testes para conhecer as mutações específicas do c-kit presentes no GIST, antes de começar o tratamento. Isto ajudaria a identificar os pacientes passíveis de ter uma resposta melhor ou pior ao tratamento inicial com imatinib. No futuro, diferentes abordagens de tratamento podem ser delineadas de acordo com os padrões específicos de mutações dos pacientes. Actualmente já estão a ser administradas doses mais elevadas de imatinib em pacientes com certas mutações do c-kit – os resultados da sobrevivência ainda não são conhecidos.

Apesar de ainda ser necessária muita mais pesquisa, os testes às mutações poderão permitir que os tratamentos sejam adaptados ao paciente individualmente, não só as doses, como também o fármaco a ser administrado. Segundo o Dr. Sleijfer, um dos maiores desafios em Oncologia é o tratamento individualizado, e o GIST poderá ser uma das primeiras doenças em que isto poderá ser uma realidade.

Isabel Marques

Fontes: Pharmalive

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