
Artrite reumatóide, aterosclerose, asma, trombose ou Alzheimer são algumas das doenças que estão na mira da Alfama através do desenvolvimento de pequenas moléculas que libertam monóxido de carbono (CORMs – CO Releasing Molecules). Combater as patologias, levando as doses certas, aos sítios certos do organismo humano é a missão da Alfama, há já cinco anos, num mercado (CORMs) que, embora em crescimento, se perspectiva gigantesco.
Fundada em 2002, esta empresa nacional possui uma tecnologia própria e inovadora, protegida por um pedido de patente internacional que cobre classes de moléculas libertadoras de CO, e com aplicação nos principais mercados mundiais. “Deste o início da actividade, a Alfama concebeu 170 CROMs e já sintetizou mais de 60, a maior parte dos quais, foram já testadas para parâmetros químicos e biológicos, com resultados muito positivos”, informa a farmacêutica.
A investigação é levada a cabo nos laboratórios do Instituto de Tecnologia Química e Biológica (ITQB) e do Instituto de Medicina Molecular (IMM). Paralelamente, a Alfama conta com parcerias estabelecidas desde a sua criação com várias empresas e institutos de investigação europeus de referência na área farmacêutica e biotecnologia, entre elas, constam entidades como a Serono e a gigante suiça Roche.
Em 2005, foi eleita a melhor start-up europeia, sagrando-se vencedora do Gate2Growth Venture Contest, da Comissão Europeia, a maior competição da Europa para empresas jovens provenientes de áreas tecnológicas que demonstrem alto potencial de crescimento. Nos primeiros meses de existência, a Alfama conseguiu angariar mais de 500 mil euros, sobretudo, provenientes de apoios governamentais.
A empresa tem presença internacional nos EUA através da Alfama, Inc, onde está sediada a organização legal e financeira da empresa. Recentemente, o seu trabalho atraiu o olhar de uma gigante farmacêutica norte-americana (IKARIA) com quem aceitou assinar acordo.
Efeito terapêutico em baixas doses
Não é novidade que o monóxido de carbono tem uma presença natural no organismo humano, desempenhando funções fisiologicamente importantes. A surpresa dá-se quando se fala em terapias com CO, isto porque, é reconhecido como um gás letal se administrado em volumes elevados. Desta forma, compreende-se que, tardiamente, tenha sido feita a descoberta, assim como, depreende-se que não foi tarefa fácil para os cientistas convencer o mundo de que este gás tem propriedades terapêuticas, nomeadamente, vasodilatadoras e anti-inflamatórias, entre outras.
De acordo com os especialistas, o tratamento com monóxido de carbono é tanto mais eficaz, quanto mais directamente for aplicado nos tecidos. Outro dos aspectos que a comunidade científica já assegurou é que o tratamento é feito muito abaixo dos níveis de toxicidade, ou seja, em doses pequenas.
Nuno Arantes-Oliveira é o rosto da Alfama e um dos mais reputados jovens empreendedores de Portugal. Doutorado em Genética, conquistou, também, distinção como cientista, sendo autor e co-autor de trabalhos de grande impacto.
“As moléculas que desenvolvemos têm a particularidade de serem desenhadas e produzidas de modo a poderem entrar no organismo, por exemplo, por via oral, e libertar o CO de uma forma controlável, nos locais onde ele é necessário”, esclareceu fonte da empresa, sublinhando que, com base nos resultados já obtidos em animais “sabemos, hoje, que estas moléculas podem realmente suprimir inflamações de uma forma, extraordinariamente eficaz, tendo, portanto, o potencial de virem a ser usadas no combate a um vasto leque de doenças graves.”
Recorde-se que, em Maio passado, foi noticiado na revista científica «Nature Medicine» que doses de monóxido de carbono (inaladas) podem inibir o surgimento de malária cerebral em animais expostos ao parasita. O mérito dos avanços no tratamento da doença foi português, os investigadores integram a Unidade de Malária do Instituto de Medicina Molecular e do Instituto Gulbenkian de Ciência que, mais tarde, anunciou um trabalho conjunto com a Alfama no sentido de testar a administração de CO por ingestão via oral, injectáveis ou intermusculares.
Em declarações à TVCiência, a autora principal do estudo, Ana Pamplona, explicou: “Neste trabalho nós demonstrámos que quando os ratinhos infectados com malária, neste caso, Plasmodium berghei ANKA, parasita específico de roedores, eram expostos a concentrações baixas de monóxido de carbono não desenvolviam malária cerebral.”
Na altura, a investigadora referia que a inalação “é um possível meio de levar o monóxido de carbono aos tecidos e aos alvos celulares que se pretendem” e destacando que a companhia de biotecnologia Alfama produz moléculas libertadoras de monóxido de carbono, anunciou: “Nós estamos a testar essas moléculas neste modelo experimental de malária cerebral, para ver se observamos os mesmos efeitos que vimos com o monóxido de carbono inalado.”
Recorde-se que, o farmacia.com.pt divulgou, recentemente, um outro estudo que reforça as propriedades terapêuticas do CO. Segundo a investigação conduzida por cientistas britânicos, pequenas doses de CO injectáveis ou soluvéis em água são benéficas para tratar doentes transplantados ou casos de artrite reumatóide e hipertensão pulmonar.
Ao que conseguiu apurara o farmacia.com.pt, em todo o mundo, existem apenas duas empresas que se dedicam ao desenvolvimento de CORMs. Ambas estão na fase de crescimento e uma delas é a Alfama. A empresa já publicou perto de 200 artigos científicos em revistas internacionais, entre elas, constam as famosas «Nature» e a «Science».