quinta-feira, 28 de junho de 2007

Leishmaniose: Pistas para futuros tratamentos

Cientistas identificaram novos genes ao comparar três espécies de parasitas

Um grupo internacional de investigadores identificou genes que poderão ajudar a indicar novos tratamentos da leishmaniose. A doença afecta, por ano, cerca de dois milhões de pessoas e ameaça um quinto da população mundial.

Num artigo publicado, este mês, na revista «Nature Genetics», os cientistas compararam os genomas da Leishmania infantum e da Leishmania braziliensis, que causam, respectivamente, a leishmaniose visceral e a monocutânea – formas que podem causar a morte –, com a sequência genómica, produzida em 2005, da Leishmania major, que causa a forma cutânea da doença, menos severa.

De acordo com a equipa de investigadores, apesar de as grandes diferenças entre os tipos de doença, apenas 200 dos mais de oito mil genes de cada genoma apresentaram distribuição diferenciada entre as três espécies.
Foi esta variação, - excepcionalmente pequena no conteúdo genético - que proporcionou novas hipóteses sobre os processos que determinam a severidade da doença em humanos.

“Identificar factores que permitem uma manifestação clínica muito diferente para três organismos tão semelhantes é uma investigação importante”, afirmou o autor principal do estudo, Matt Berriman, do Instituto Wellcome Trust Sanger.

Na revista «Nature Genetics», os cientistas revelam que identificaram apenas cinco genes do genoma da Leishmania major que estavam completamente ausentes nas outras duas espécies.
“É evidente que deve ter havido uma pressão evolucionária considerável no decorrer do tempo para manter a estrutura e a sequência dos genomas de Leishmania. O grau de similaridade entre as espécies foi algo inesperado”, explicou Deborah Smith, uma das autoras do estudo.

Para a investigadora da Universidade de Nova York, “talvez apenas poucos genes dos parasitas sejam importantes para determinar que tipo de doença se desenvolve depois da infecção. É possível que o genoma do hospedeiro tenha um papel mais importante na manifestação clínica da doença.”

Estudo representa esperança

A leishmaniose é uma das doenças consideradas negligenciadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que destaca a necessidade do desenvolvimento de novos tratamentos. Faltam estudos biológicos sobre a função de metade dos genes da Leishmania, por isso, o estudo comparativo de genomas representa um caminho para descobrir aqueles que são essenciais para cada espécie.

Um alvo potencial é o gene CFAS, que codifica uma enzima envolvida na produção de componentes da membrana celular. O CFAS está presente nos genomas da Leishmania braziliensis e da Leishmania infantum, mas está ausente no genoma humano. Acredita-se que os genes do parasita tenham sido adquiridos de espécies bacterianas que têm sequências muito similares.

Jeremy Mottram, colaborador do projecto e docente na Universidade de Glasgow, na Escócia, esclarece que “o CFAS está envolvido com a virulência e a persistência no Mycobacterium, (agente causador da tuberculose)”, concretizando que, “a identificação deste gene na Leishmania levanta a possibilidade de que alguns factores de virulência sejam conservados entre patogénicos, intracelulares bacterianos e eucarióticos.”

“Além da função relativa à diferença dos quadros clínicos, o número limitado de genes específicos para cada espécie poderá levar a uma identificação mais rápida de sequências envolvidas em aspectos especializados da biologia da Leishmania” considerou outro investigador, David Sacks, director do Instituto de Alergias e Doenças Infecciosas de Bethesda, nos Estados Unidos.


Portugal: leishmaníase visceral
A leishmaniose ou leishmaníase ou calazar ou úlcera de Bauru é a doença provocada pelos parasitas unicelulares do género Leishmania. Há três tipos de leishmaníase: visceral, que ataca os orgãos internos, cutânea, que ataca a pele, e mucocutânea, que ataca as mucosas e a pele. No Brasil existem as três formas, enquanto que em Portugal existe principalmente a leishmaníase visceral e alguns casos (muito raros) de leishmaníase cutânea. Esta raridade é relativa, visto ocorrer uma subnotificação dos casos de Leishmaniose cutânea. Uma razão para esta subnotificação é o facto de a maioria dos casos de Leishmaniose cutânea humana serem autolimitantes, embora possam demorar até vários meses a resolverem-se.
As Leishmania são transmitidas pelos insectos fêmeas dos géneros Phlebotomus (Velho Mundo) ou Lutzomyia (Novo Mundo). A Leishmaniose também pode afectar o cão. Aliás, na Europa, este é considerado o reservatório da doença.

Raquel Pacheco

Fonte: BBC/Agência FAPESP/Biotecnologia.com/

1 comentário:

Rui Borges disse...

Bom artigo, mas como portal do medicamento que somos, devemos dar um enfoque especial às terapêuticas existentes quando falamos de uma doença.