quinta-feira, 28 de junho de 2007

REPORTAGEM

Brasil já vende medicamentos fraccionados há mais de um ano
Solução para evitar o desperdício de fármacos


Todos os dias, em todo o mundo, há milhões de pessoas que se dirigem à farmácia e são confrontadas com o mesmo problema: de acordo com a receita prescrita pelo médico precisam de uma determinada quantidade de fármacos, mas a embalagem do medicamento correspondente contém muito mais do que a quantidade prescrita. Inevitavelmente, quando finda o tratamento as unidades remanescentes vão para o lixo ou acumulam-se nos armários até ultrapassarem a validade ou serem usadas num eventual episódio de auto-medicação posterior. Um desperdício a que a venda fraccionada de medicamentos poderia dar resposta.

No Brasil a medida já está a ser aplicada desde 2005, e apesar da polémica inicial, motivada pelo desacordo das empresas farmacêuticas, que alegavam ter elevados custos de adaptação das linhas de fabrico para a modificação das embalagens, parece ter encontrado consenso na sociedade. O objectivo da venda fraccionada de medicamentos – o farmacêutico dispensa ao utente apenas o número de comprimidos ou a exacta quantidade de outros produtos que é indicada na receita médica, em vez de obrigar à compra de toda a embalagem – é eminentemente social, e visa apenas evitar o desperdício de dinheiro por parte de quem compra o fármaco, mas poderia ser uma boa opção, também em Portugal, evitando a acumulação de restos de embalagens que é comum nos armários de qualquer família.
Em vigor desde Maio de 2005 no Brasil, na sequência de um despacho da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a venda fraccionada de medicamentos dá ao doente a hipótese de adquirir apenas o número de comprimidos necessários, de acordo com a receita que apresenta, para o tratamento indicado pelo médico, mas só pode ser efectuada em farmácias e laboratórios adequados a essa prática, ou seja, que disponham de um ambiente exclusivo para a divisão dos medicamentos e tenham à disposição do público um farmacêutico devidamente identificado, que é o único profissional capacitado para essa tarefa.

O caso português
A venda nas farmácias portuguesas da quantidade exacta de medicamentos que foi prescrita pelo médico, em embalagens destacáveis que permitissem a divisão das quantidades, evitaria o enorme e recorrente desperdício de dinheiro e produtos, ao mesmo tempo que favoreceria o ambiente, visto que muitas vezes as embalagens que sobram são depositadas em lixeiras onde podem, inclusivamente, contaminar o solo e captar a atenção das crianças, colocando a sua saúde em risco. No nosso país a solução para as embalagens de medicamentos remanescentes é hoje outra, e passa pela sua revalorização energética, mas nem sempre a população adere às iniciativas de entrega dos fármacos não utilizados.
O sistema integrado de recolha de embalagens e medicamentos fora de uso criado pela Valormed potenciou, apenas em 2005, a reciclagem de mais de 90 por cento das 4202 toneladas de resíduos produzidas pela fileira do medicamento. De acordo com dados de um estudo realizado pela Business Unlimited para aquela empresa, os fabricantes, armazenistas e distribuidores e importadores de medicamentos em Portugal produziram, naquele ano, 4202 toneladas de resíduos, entre plástico, madeira, metal, vidro, mistura de embalagens vazias ou embalagens contaminadas por resíduos de medicamento (cerca de metade dos resíduos).
Na passada segunda-feira a sociedade Valormed informou que 98 por cento das farmácias portuguesas integram já o projecto ambiental de recolha de resíduos de embalagens e medicamentos fora de prazo. O anúncio foi feito no âmbito da quinta edição da entrega dos Prémios Valormed, que visam distinguir as farmácias que, a nível distrital, mais se destacaram na promoção de iniciativas de sensibilização da população para os comportamentos de protecção ambiental em termos de resíduos de embalagens e medicamentos fora de uso.
Numa sessão que contou com as presenças dos presidentes do Infarmed, da ANF, da Apifarma, da Groquifar e da Fecofar, os directores técnicos e os representantes das farmácias premiadas em todo o país, o director-geral da Valormed, José Carapeto, considerou que “neste processo de formação para um comportamento ecológico na fileira do medicamento, o farmacêutico e os profissionais de saúde que exercem funções nas farmácias comunitárias desempenham papel crucial, porque são o rosto visível da Valormed, aconselhando e sensibilizando os utentes para a mais valia ambiental deste sistema”.

Carla Teixeira
Fonte: Boehringer Ingelheim, Correio da Bahia, Valormed

2 comentários:

Rui Borges disse...

Excelente artigo. Muito bom timing!

Carla Teixeira disse...

Obrigada! Curiosamente, estava já a prepará-lo quando as polémicas declarações do ministro da Saúde vieram colocar o tema na ordem do dia...