quarta-feira, 20 de junho de 2007

Alterações do ciclo menstrual prejudicam qualidade da voz

A investigadora da Universidade de Aveiro, Filipa Lã, que debate no sábado, em Matosinhos, a temática sobre as diferentes fases do ciclo menstrual, fala que estas afectam de forma negativa a performance das cantoras líricas
Filipa Lã, soprano e bióloga de formação, afirmou à Lusa que estudos realizados neste campo demonstram existir uma relação entre as variações hormonais e a voz.
“Devido ao seu sistema endócrino, as mulheres são mais afectadas e as mudanças na voz são mais visíveis no caso daquelas que usam a voz profissionalmente”, declarou.
Filipa Lã apontou as “semelhanças” entre o tecido das paredes do útero e a mucosa das cordas vocais como uma das causas que pode alterar a voz das cantoras, principalmente no período pré-menstrual e menstrual.
Segundo referiu, como as mudanças no corpo da mulher são cíclicas, “nas fases pré-menstrual e menstrual há retenção de fluidos, que se verifica também ao nível nas cordas vocais”.
Esta retenção de fluidos, referiu a investigadora ainda, “provoca alterações na voz, como rouquidão e edemas, por exemplo”.
“Se as cantoras esforçam a voz nesses períodos, pode mesmo haver uma pequena hemorragia vocal”, alertou, dizendo também, que estes tipos de problemas são manifestados, apenas em algumas pessoas.
De acordo com um estudo que realizou, Filipa Lã constatou que 80% dos estudantes de canto sentem alterações vocais, mas umas muito mais do que outras.
Para conseguir ultrapassar este problema, a investigadora fala em algumas soluções: “não exigir muito da voz nessas alturas”, bem como “beber muita água, evitar gritar e tomar vitamina B12”.
Um método não muito natural, mas que também resulta, é estas mulheres tomarem a pílula contraceptiva de forma seguida, ou seja não cumprirem os sete dias de paragem, entre caixas.
“É importante ter conhecimento deste fenómeno e suas causas/efeitos, não só porque a voz é a impressão digital da emotividade, personalidade e sexualidade individuais, como também é o principal instrumento de comunicação”, considerou a investigadora.
Por isso, “pequenas alterações vocais podem vir a ter consequências nefastas na qualidade de vida de uma mulher, especialmente das que dependem profissionalmente da sua voz”, concluiu.
Filipa Lã está a desenvolver agora, em parceria com a Universidade do Porto, uma investigação para perceber em que medida a terapêutica hormonal de substituição afecta a voz das mulheres na menopausa, particularmente cantoras, locutoras, actrizes e professoras.
A bióloga e soprano vai falar, sábado, da interferência dos esteróides sexuais na voz e no canto, na conferência «music medicine», a decorrer às 16:30, na FNAC do Norteshopping.
Na sessão, organizada pelo jornal on-line Ciência Hoje (www.cienciahoje.pt), Filipa Lã vai também cantar poemas de António Botto, sendo acompanhada pelo pianista Francisco Monteiro.

Juliana Pereira
Fonte: Diário Digital / Lusa

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