terça-feira, 19 de junho de 2007

Anti-coagulantes podem evitar amputações em lesões provocadas pelo frio

Os medicamentos anti-coagulantes utilizados no tratamento de derrames cerebrais e ataques cardíacos poderão ser uma solução para restaurar o fluxo sanguíneo nos dedos e noutros membros do corpo que sofreram congelamento. Um estudo recente diz mesmo que desta forma poderão ser evitadas algumas amputações.

A equipa de investigadores da Universidade de Utah realizou a pesquisa num pequeno grupo de doentes e verificou que os fármacos trombolíticos (substâncias que dissolvem o coágulo) como a estreptoquinase, a uroquinase ou o activador do plasminógeno tecidular, podem ser eficazes no tratamento das queimaduras provocadas pelo gelo.

Este tipo de lesões provocadas pelo frio pode atingir várias partes do corpo que sofrem danos permanentes. Conforme a explicação fornecida pelo Manual Merck, “é mais provável que o congelamento afecte quem tem circulação deficiente devido à arteriosclerose (espessamento e endurecimento das paredes arteriais), a espasmo (que pode ser provocado pelo tabagismo, por alguns problemas neurológicos e por determinados medicamentos) ou à dificuldade do fluxo sanguíneo por compressão provocada por botas ou luvas demasiado apertadas”.

As mãos e os pés expostos ao frio são mais vulneráveis. O dano que o congelamento provoca deve-se a uma combinação de fluxo sanguíneo reduzido com a formação de cristais de gelo nos tecidos. Ao congelar, a pele adquire uma cor avermelhada, incha e provoca dor, até que finalmente se torna negra. As células das zonas congeladas morrem. Dependendo da intensidade do congelamento, o tecido afectado pode chegar a recuperar ou gangrenar.

Actualmente, as terapias conhecidas recomendam que se enrole a pessoa congelada numa manta de protecção. Quanto à zona congelada, deverá ser lavada, seca e envolvida em ligaduras esterilizadas e mantida meticulosamente limpa, para evitar infecções.

Quando se diagnostica um estado de congelamento, deve ser administrado um antibiótico, no entanto alguns especialistas recomendam também a aplicação da vacina antitetânica. Os investigadores esperam agora dar um passo em frente relativamente a este tipo de terapias de forma a proporcionar a estes doentes uma tratamento mais eficaz.

O congelamento pode abranger desde uma queimadura por frio superficial até às camadas de pele mais interiores, provocando lesões que danificam os tecidos, os músculos e os ossos. Nos casos mais moderados pode nem ocorrer qualquer tipo de lesão permanente, porém os casos mais graves obrigam à amputação dos membros afectados.

A actuação desta terapia verifica-se ao nível da recuperação “dos tecidos que estão danificados mas que ainda não estão mortos”, explicou Stephen Morrir, um dos médicos responsáveis pela elaboração do estudo divulgado pelo jornal “Archives of Surgery”.

De acordo com os resultados do estudo, os pacientes que receberam terapia trombolítica conseguiram mais facilmente recuperar e manter os dedos das mãos e pés que estavam danificados do que outros aos quais não foi administrado o tratamento.

Dos 32 doentes envolvidos na investigação, sete foram tratados à base de uma terapia de anti-coagulantes, seis dos quais receberam o tratamento dentro das primeiras 24 horas de exposição. Posteriormente os resultados foram comparados com os dos 25 pacientes que não foram submetidos à terapia e com um paciente que recebeu o tratamento depois das primeiras 24 horas de exposição.

Do total de 32 participantes, 19 por cento sofria de congelamento nas mãos, 62 por cento nos pés e 19 por cento em ambas as extremidades.

Entre os pacientes aos quais foi aplicada a terapia em estudo, apenas 10 por cento dos dedos das mãos e pés afectados foram amputados, comparativamente com 41 por cento naqueles doentes que não receberam o tratamento. Nenhum dos pacientes submetidos ao tratamento necessitou de amputar qualquer membro do corpo, comparativamente com 14 no grupo de controlo.

Face aos resultados, os investigadores suspeitam que a terapia, em que se aplicaram fármacos destinados à dissolução dos coágulos, ajuda a reduzir as lesões causadas quando a pele com danos provocados pelo frio volta a aquecer. É frequente que as inflamações que ocorrem à medida que as partes afectadas vão descongelando estimulem coágulos que bloqueiam pequenos vasos sanguíneos, conduzindo à morte das células. Uma vez que a terapia reverte esta situação, o fluxo sanguíneo é restaurado antes que ocorram danos permanentes.

“Já foram empreendidas várias manobras com o objectivo de progredir no tratamento de doentes com congelamento, incluindo a utilização de oxigénio hiperbárico, simpatectomia médica e cirúrgica, agentes farmacêuticos e anti-coagulantes. Nenhuma destas terapias provocou alterações no tratamento da doença”, salientaram os investigadores.

Por sua vez, a terapia trombolítica parece reverter a trombose, prevenindo a insquémia e a necrose que podem ocorrer nas inflamações e nos coágulos durante o descolgelamento do tecido congelado.

Ainda assim, os investigadores reconhecem as limitações do estudo já que a amostra era muito reduzida e proveniente de uma única região geográfica. Para além disso, não foi colocada de lado a hipótese de os pacientes que receberam terapia trombolítica poderem ter melhorado sem esse mesmo tratamento.

Recorde-se que a terapia trombolítica também não é uma inovação, mas tem uma aplicação difícil porque nem todas as vítimas de congelamento podem ser submetidas ao tratamento. As pessoas que sofram de debilidade ao nível sanguíneo ou que já tenham sofrido uma lesão na cabeça correriam riscos de sérias complicações com a utilização de anti-coagulantes.

John Twomey, director do departamento de queimados do “Hennepin County Medical Center”, no Minneapolis, tentou utilizar esta terapia pela primeira vez num doente há cerca de 20 anos e desde então já tratou 18 pacientes com a referida terapia.

Marta Bilro

Fonte: MSNBC, Fox News, Insider Medicine, Med Page, Manual Merck.

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