terça-feira, 19 de junho de 2007

Estudo: Bebés fumadores-passivos têm elevados níveis de cotinina no organismo

As crianças que habitam em lares em que pelo menos um dos pais é fumador apresentam na urina níveis 5,5 vezes superiores de cotinina, uma substância derivada da oxidação da nicotina, do que os filhos de não fumadores, revela um estudo elaborado por cientistas britânicos.

Os especialistas acreditam que ao fumar perto dos recém-nascidos, estes transformam-se em fumadores passivos crónicos, mais sensíveis ao risco de aparecimento de doenças relacionadas com o sistema respiratório. O estudo diz mesmo que este factor pode estar relacionado com muitos casos de morte súbita.

A cotinina é desenvolvida pelo próprio corpo num tentativa de se defender da nicotina inalada através do fumo. A investigação divulgada pela edição on-line do jornal “Archives of Diseases in Childhood” concluiu que os bebés cuja mãe é fumadora correm um risco quatro vezes superior de acumular cotinina no corpo.

O estudo, que envolveu 104 crianças com 12 semanas de idade (71 das quais em que um dos pais é fumador e 33 com pais não fumadores), indicou também que os bebés que nascem em famílias onde o pai é fumador, o nível de cotinina detectado na urina duplica.

“Os bebés e as crianças são expostos de forma rotineira ao fumo do cigarro pelos progenitores nas suas casas, uma vez que não é aplicada a mesma legislação em vigor nos espaços públicos”, refere o artigo elaborado por investigadores da escola médica da Universidade de Leicester e pela Universidade Warwick.

Há outros factores associados ao aumento dos níveis de cotinina no corpo, como é o caso dos bebés que dormem com os pais ou em quartos onde a temperatura é baixa, revelam os cientistas. “Os bebés afectados pelo fumo são, por norma, provenientes de lares pobres, com divisões reduzidas e aquecimento inadequado”, relata o estudo.

De acordo com os autores, “os elevados níveis de cotinina, em alturas do ano em que a temperatura é mais baixa, podem ser um reflexo de outros factores chave que influenciam a exposição ao fumo passivo, tais como a má ventilação ou uma tendência dos pais para fumarem dentro de casa no inverno”.

Dormir com os pais é um factor de risco que propicia a síndrome de morte súbita infantil, alertam os cientistas, justificando que isso se poderá dever à proximidade das crianças com a roupa ou outros objectos dos pais contaminados com partículas de fumo.

Existem, segundo os investigadores, dificuldades práticas na prevenção do acto de fumar dentro de casa que requer boa vontade por parte dos que nela habitam e informação sobre os perigos para a criança. Só resta esperar que as mães façam o que é melhor para os filhos, sublinham os especialistas.

“Todos temos consciência de que o fumo passivo é nocivo para as crianças, o que acabámos de fazer foi traduzi-lo em números”, referiu Mike Wailoo, especialista em saúde infantil na Universidade de Leicester.

“A nicotina, da qual a cotinina é um derivado, tem efeitos na estimulação cardiovascular, no entanto, esse é apenas um dos vários milhares de compostos do fumo do tabaco e pode nem ser o mais letal. A forma como afecta as crianças é completamente desconhecida”, alertam os responsáveis pelo estudo.

A mesma investigação demonstrou que 74 por cento dos fumadores garantiram não fumar quando se encontravam no mesmo espaço que uma criança, comparativamente aos 47 por cento que afirmou que não fuma na companhia de outros adultos não fumadores.

Os dados da Organização Mundial de Saúde indicam que 49 por cento das crianças são fumadoras passivas em casa e 60 por cento em locais públicos. O tabagismo passivo é a primeira causa de doença pediátrica, sendo que 50 por cento dos recém-nascidos com baixo peso são filhos de mães que fumaram durante a gravidez.

Marta Bilro

Fonte: Forbes, Guardian Unlimited, Life Stile Extra.

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