A confirmarem-se os resultados desta investigação preliminar, a descoberta poderia resolver o problema de alguns países com serviços médicos precários, que não possuem mecanismos de conservação e armazenamento de vacinas.
De acordo com o director do Burnet Institute, em Melbourne, Steve Wesselingh, o modelo de vacina desenvolvido pelos investigadores japoneses aparenta ser bem sucedido e estável. “O que se prevê é uma dose muito controlada, administrada oralmente a uma população”, explicou este virólogo. A principal vantagem, acrescentou o responsável, é a possibilidade de o produzir a custos reduzidos e não haver muitos processos de preparação depois de o produto ter crescido e ter sido colhido, “o que obviamente reduz as necessidades de biotecnologia de ponta em países que não possuem capacidade para a ter”.
Para a equipa de investigadores liderada por Hiroshi Kiyono, o principal benefício desta nova abordagem reside no facto dela causar reacções imunes que abrangem todo o sistema corporal e os tecidos de mucosa como a boca, o nariz e o tracto genital. A investigação levada a cabo pelos cientistas japoneses foi subsidiada por várias agências governamentais nipónicas.
As vacinas comuns, aplicadas através de uma injecção, não provocam respostas de imunidade nas áreas mucosas, o que significa que a nova vacina poderá ter uma vantagem contra infecções que frequentemente atacam essas membranas, como é o caso da cólera, o VIH, o vírus da gripe e da pneumonia atípica.
“Este não é o grau de progresso que esperávamos ter neste momento”, afirmou Hugh Mason, investigador da Universidade do Estado de Arizona, que já trabalhou em várias pesquisas com plantas para a elaboração de vacinas. O especialista preveniu ainda que não é fácil conseguir uma boa resposta às substâncias ingeridas oralmente devido ao ambiente hostil do aparelho digestivo.
“Teremos que desenvolver formas de proteger a vacina da degradação provocada pelo estômago e posteriormente introduzi-la na direcção do intestino para que possa ser absorvida ”, explicou Mason.
David Pascual, um especialista em biologia molecular da Universidade do Estado de Montana, em Bozeman, salientou o facto dos investigadores japoneses terem conseguido gerar uma resposta imunitária protectora nos ratos e ao mesmo tempo evitar qualquer reacção alérgica ao arroz. Para além disso, o arroz transgénico pode ser armazenado à temperatura ambiente e não oferece os riscos de infecção inerentes a uma injecção. Pascual que não participou nesta pesquisa, lembra que várias outras plantas têm sido desenvolvidas para serem usadas na produção de vacinas.
Ainda assim, o responsável pela investigação advertiu que o facto de a vacina derivar do arroz não significa que seja comestível. “Não queremos criar a ideia nas pessoas de que se comerem arroz ficam vacinados”, afirmou Kiyono, acrescentando que a vacina seria distribuída em cápsulas ou comprimidos contendo pó de arroz e deverá ser encarada como um medicamento e não como comida.
Depois dos primeiros testes em ratos, Kiyono sublinhou que ainda são necessários mais estudos preliminares e mostrou-se confiante que “num futuro próximo” a vacina possa ser testada num macaco.
Marta Bilro
Fonte: AHN, imirante.com, ABC Today, CNN Money,
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