Quando a Saúde também está doente...

Em Portugal os dados mais recentes sobre a segurança dos doentes hospitalizados remontam a 2005 e têm, quase todos, a chancela da associação de defesa do consumidor Deco. Naquele ano foram dois os números da revista «Proteste» dedicados à temática dos perigos associados ao internamento - infecções hospitalares e má qualidade da comida servida nas cantinas dos hospitais -, e uma investigação divulgada na edição de Setembro daquele ano na revista «Dinheiro & Direitos» deu a conhecer a existência de problemas como "listas de espera intermináveis, informação escassa aos pacientes e uma prestação de serviços cara e pouco eficiente”. O estudo referia ainda que, "quando os profissionais de saúde falham, as consequências para os utentes podem ser graves”, incluindo a morte, que de acordo com a mesma fonte atinge anualmente milhares de pessoas na rede nacional de hospitais. Depois da comida e do preço dos tratamentos, na edição nº265 da revista «Teste Saúde» era abordada a questão do ambiente hospitalar, com os técnicos da Deco a aferir que “mais de metade dos hospitais visitados no decurso do estudo revelava concentrações de microrganismos acima do limite máximo admitido pela Organização Mundial de Saúde”.
Os mais recentes dados disponibilizados pela Autoridade Nacional do Medicamento e dos Produtos de Saúde (Infarmed) apontam para a ocorrência de sete mil mortes anuais devidas a erros relacionados com a utilização de fármacos em ambiente hospitalar, e de cerca de 20 mil óbitos por ano associados a outros erros médicos. Ainda mais gravosas são as consequências das reacções adversas, que matam 106 mil doentes a cada ano que passa, e que em três quartos dos casos são perfeitamente evitáveis. Diante deste cenário, a Ordem dos Farmacêuticos salientou a necessidade de promover programas de gestão do risco hospitalar, envolvendo os hospitais, as empresas farmacêuticas, as distribuidoras e os profissionais.

Em finais do passado mês de Setembro Margarida França participou numa conferência internacional realizada no Porto, e em que, sob a égide da presidência portuguesa da União Europeia, cerca de 400 académicos, decisores públicos e representantes de sistemas de saúde na UE debateram a «Segurança dos doentes – Investigação na prática», focalizando a discussão na problemática da “promoção e divulgação da acção e da investigação internacionais, o reforço do alargamento de um leque de iniciativas e a proposta, para a prática, de padrões baseados na evidência”.
Tendo em conta que, quando recorre a um qualquer serviço de saúde, o doente pretende curar-se das patologias que o atormentam, e considerando os números avançados na véspera daquele encontro pelo director-geral de Saúde, Francisco George, segundo o qual sete por cento dos doentes internados contraem infecções hospitalares, a especialista enfatizou, em declarações ao farmacia.com.pt, que "há programas de gestão do risco dirigidos especificamente para evitar e corrigir esses erros e incidentes”. Salientando que em meios como os hospitais, em que “há tantas pessoas doentes”, será impossível driblar totalmente os riscos de contágio de determinadas doenças, quer entre os pacientes que se encontram internados, quer mesmo entre os profissionais de saúde, Margarida França frisou que o papel desses programas de gestão de risco passa a ser o de “diminuir o impacto” dos riscos que não podem, de todo, ser evitados".
Fonte: Organização Mundial de Saúde, Infarmed, Ordem dos Médicos, Ordem dos Farmacêuticos, Ordem dos Enfermeiros, contactos telefónicos