quarta-feira, 13 de junho de 2007

Não há cadáveres para investigação médica

O Instituto de Anatomia da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) alertou hoje que a falta de cadáveres põe em risco a dissecção no ensino da medicina e na investigação.

Por isso, a FMUP apela ao filantropismo dos portugueses na doação de corpos para fins científicos.

Em comunicado, a FMUP, refere «As aulas de anatomia e a investigação médica, com recurso à dissecção de cadáveres humanos, estão seriamente comprometidas. Em causa está a falta de cadáveres doados ao Instituto de Anatomia (IA) da Faculdade».

Em declarações à agência Lusa, Manuel Paula Barbosa, do IA, referiu que a instituição recebe, em média, entre seis a nove cadáveres por ano para dissecção.

«A dissecção é um método de ensino e de aprendizagem excelente», disse o investigador, acrescentando que actualmente estão inscritas 1554 pessoas como doadoras do seu cadáver para dissecção.

Manuel Paula Barbosa frisou também que, «mais do que a falta de declarações de doação, o problema da faculdade passa pelo incumprimento da vontade expressa dos doadores, por parte dos familiares, que ignoram o gesto altruísta de ceder o corpo para estudo».

«O problema é que os corpos não chegam cá. As famílias não cumprem a vontade do doador por múltiplas razões, mas essencialmente por razões religiosas», lamentou.

Manuel Barbosa salienta que, «em todo o processo inerente ao uso de corpos para estudo ou investigação, os médicos, cientistas e estudantes de medicina têm a máxima consideração pela dignidade pessoal e social do falecido e dos seus familiares».

«As cerimónias fúnebres que antecedem o acto de doação ou outras homenagens em nada são prejudicadas. Para além disso, a entidade cientificamente beneficiada fica responsável pela cremação ou inumação dos restos mortais dissecados, findos os estudos», sustenta Manuel Barbosa.

Para o responsável, a dissecção de cadáveres é um método que dá aos estudantes de medicina uma competência única: a humanização.

Assim, Manuel Barbosa «apela à generosidade e ao filantropismo dos portugueses» e lembra que «ao doar o cadáver ao ensino e à investigação, os cidadãos estão a contribuir para formar melhores médicos, com conhecimentos mais sólidos e mais humanismo, logo, mais aptos a tratar dos vivos».

Nuno Oliveira Jorge

Fonte: Lusa

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