quarta-feira, 21 de novembro de 2007

REPORTAGEM: Sites sobre saúde trazem inegáveis benefícios

Internet pode ser útil para tratar dor crónica e permite aproximar doente do profissional de saúde

A Internet como fonte de informação e esclarecimento sobre saúde e doenças está a ganhar terreno. Os dados disponibilizados fazem prova desta realidade. No caso europeu, foi revelado que, de um modo geral, “os indivíduos valorizam a informação de saúde que lhes chega via online.” Um outro estudo sueco aponta o benefício desde canal no tratamento da dor crónica…

A massificação do uso da internet e a exploração crescente e positiva de sites sobre Saúde trouxe inegáveis facilidades e benefícios para a população, especificamente, ao permitir o acesso a informações variadas, a consultas de aconselhamento online, às últimas inovações terapêuticas, a avanços no diagnóstico e condução de doenças, tal como os medicamentos e produtos mais recentes.

Tal como divulgou oportunamente o farmacia.com.pt num artigo intitulado «Um novo Mundo de oportunidades!», os europeus classificam este canal, em termos de importância, “num nível semelhante ao das enciclopédias e livros, da família, dos amigos e até das farmácias”, destacando que a Internet apresenta-se não só como “uma fonte de informação prioritária para os consumidores”, mas também, “uma ferramenta revolucionária para a indústria farmacêutica, já que permite que o paciente encontre o profissional sempre que procura por ele.”

Considerada como o suporte “mais interactivo, profundo e rico em informação”, torna-se, assim, irreversível não encarar esta ferramenta como um complemento a qualquer actividade de saúde, nomeadamente, através dos sites de saúde que proliferam mais do que nunca, assim como, os seus consumidores. Exemplo disso é o farmacia.com.pt que, desde o início da semana (dia 19), já registou quase 10 mil visitas.

«e-farm@cia» é outro espaço online de destaque no panorama nacional. Dedicado ao aconselhamento farmacêutico, o principal objectivo deste site é a promoção da saúde e do uso racional do medicamento, bem como, prestar toda a informação necessária ao esclarecimento e aconselhamento dos utilizadores de medicamentos.

De acordo com um estudo publicado na revista «International Journal of Rehabilitation Research», um investigador sueco da Uppsala University, avaliou um programa da internet, que orienta a reabilitação de doentes portadores de dor crónica e/ ou síndrome do esgotamento profissional (burnout).

O programa teve a duração de 20 semanas, e baseou-se em 19 filmes acerca de diferentes temas relacionados a práticas que garantam melhora da capacidade produtiva, reabilitação profissional e incremento nos indicadores de saúde individual, sendo que, durante o mesmo período, o mesmo número de participantes (25) recebeu terapia convencional.

Segundo noticiou a revista, após um ano da participação no programa online, 25 indivíduos responderam a um questionário sobre a sua condição actual no trabalho. “Os resultados apresentados indicaram que a complementação da terapia através do programa de reabilitação oferecido pela internet resultou na melhora da capacidade produtiva em 52% dos participantes, em comparação com apenas em 13% dos que receberam somente o tratamento convencional.”

Neste sentido, o investigador sueco concluiu que “o programa de reabilitação (fornecido pela Internet) para complementação do tratamento de indivíduos portadores de dor crónica ou da síndrome de burnout, é útil garantindo um incremento da capacidade de laboração dessas pessoas.”

Cybercondríaco

No entanto, por norma, não há prós sem contras. Ao que o farmacia.com.pt conseguiu apurar, para um hipocondríaco não há nenhuma diferença entre uma consulta médica de 15 minutos e aceder a um site que lhe abre um leque de informações variadas e completas sobre todas as doenças que se possa imaginar.

“Nenhum dos dois – médico ou internet – resolve o problema destes doentes, que, mesmo com a informação, não se acalma”, considerou o psiquiatra Marcelo Feijó de Mello, coordenador do Programa de Atendimento a Vítimas de Violência e Stresse da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), desdramatizando: “A doença do ‘antigo’ hipocondríaco ou do ‘novo’ cybercondríaco é a certeza de que tem alguma patologia grave.”

Entretanto, um outro estudo feito pela empresa Harris Interactive, nos Estados Unidos, em 2006, constatou que cerca de 160 milhões de internautas já usaram a web para pesquisar sobre saúde - um número que, segundo os investigadores – terá crescido 37% no último ano.

Em declarações ao Jornal da Tarde (São Paulo), Miguel (nome fictício) afirmou ter um vasto conhecimento sobre medicina, “adquirido na internet e em revistas especializadas”, rematando, porém, que “não é todo o médico que aceita o paciente 'sabichão'. Eu sei que alguns se incomodam com o meu vasto conhecimento sobre medicina, com as perguntas e as confrontações que faço. Às vezes, aparento saber mais do que eles” ironizou, rematando não se considerar hipocondríaco, mas sim, “hipervigilante”.

Raquel Pacheco

Fonte: International Journal of Rehabilitation Research/Jornal da Tarde/Agência Estado/farmacia.com.pt/ e-farm@cia
Economista vê vantagens do fim da reserva para farmacêuticos
Ainda a propriedade das farmácias…


Pedro Pita Barros é economista, professor catedrático e autor de diversos estudos na área da Economia da Saúde. Na sua mais recente investigação, «Propriedade das farmácias – Mitos e argumentos», apresentada na Assembleia da República no passado mês de Outubro, considera que o abandono da reserva de propriedade de farmácias para os farmacêuticos encerra oportunidades que compensam os riscos. O farmacia.com.pt analisa um documento que promete ser polémico…

No estudo sobre os possíveis impactos da alteração introduzida pelo regime jurídico das farmácias de oficina (que se encontra em vigor desde o final de Outubro), a que o farmacia.com.pt teve acesso, e que foi apresentado aos deputados portugueses no dia 23 do mês passado, Pedro Pita Barros percorre toda a argumentação contra e a favor da medida, analisando os argumentos de vários entidades com relevo no sector, como a Associação Nacional de Farmácias, a Ordem dos Farmacêuticos, a Autoridade da Concorrência, o próprio Ministério da Saúde, os deputados da Nação e os partidos políticos, os juristas, os profissionais de Farmácia e a população em geral.
Da análise de todos os argumentos, o catedrático da Universidade Nova de Lisboa conclui que a separação da direcção técnica da propriedade da farmácia tem como vantagem a possibilidade de uma maior inovação organizacional, considerando que “ao abrir o leque de potenciais proprietários abre-se lugar a uma maior inovação”. A principal desvantagem aferida pelo autor nessa opção – o risco de conflitos entre o proprietário e a direcção técnica do estabelecimento de dispensa de medicamentos – pode, segundo Pita Barros, transformar-se numa vantagem, ao permitir “clarificar os conflitos éticos”. Do ponto de vista estritamente económico, o especialista refere a existência de um argumento para cada lado: contra, o facto de se criar uma maior instabilidade profissional para os farmacêuticos; a favor, a circunstância de se criar uma margem alargada para o surgimento de serviços e modos de organização que beneficiem os consumidores.

Apresentação em Coimbra
Semanas depois de o ter apresentado aos deputados, Pedro Pita Barros defendeu há dias o seu estudo numa sessão realizada numa unidade hoteleira de Coimbra, seguida de um debate aberto a perguntas da assistência. Nesse encontro, o autor de «Propriedade das farmácias – Mitos e argumentos» explicou que o documento teve como principal objectivo “perspectivar o problema do abandono da reserva de propriedade das farmácias do ponto de vista económico”, tendo fundamentalmente em conta o facto de que a actividade desenvolvida na farmácia passa pela dispensa de medicamentos e pelo aconselhamento aos utentes, consistindo a primeira numa “actividade standard”, e a segunda numa “actividade específica para cada doente”. Nessa linha, lembrou que “ambas as actividades têm de ser geridas”, mas vincou a necessidade de “perceber até que ponto essa gestão obriga a que a propriedade do estabelecimento seja detida por um farmacêutico”.
E o que Pita Barros concluiu nesse aspecto foi que, “do ponto de vista económico, faz todo o sentido a separação da direcção técnica da propriedade”, para que “cada um se concentre naquilo para que tem formação específica”. No culminar de uma extensa lista de argumentos pró e contra a medida, o investigador frisou que “todas as decisões têm riscos e oportunidades”, mas defendeu a ideia de que “abandonar a reserva de propriedade apresenta oportunidades que compensam os riscos”. Do lado oposto da barricada, o farmacêutico Vladimiro Jorge Silva, também orador na sessão de Coimbra, tentou demonstrar “uma posição de princípio contra a abertura da propriedade das farmácias a não farmacêuticos”. De acordo com uma notícia do «Diário de Coimbra», o profissional abordou o “conflito básico entre economistas e farmacêuticos”, em que uns privilegiam a “vertente económica”, visando uma “maior rentabilidade no maior tempo possível”, e os outros “preocupam-se com aspectos relacionados com a saúde pública”, justificando assim a sua oposição à medida.

Carla Teixeira
Fonte: «Diário de Coimbra», estudo de Pedro Pita Barros, site do autor
Especialistas debateram «Inovação farmacêutica» em Viseu
Custo elevado inviabiliza aposta na investigação


O volume de novos produtos surgidos no mercado farmacêutico europeu tem vindo a sofrer um decréscimo considerável ao longo dos últimos anos. Para o presidente da Associação Portuguesa de Indústria Farmacêutica (Apifarma), “uma das razões” para que tal aconteça é a “escalada dos custos da investigação”, processo exigente e demorado, mas que tem vindo a ser condicionado pelo factor económico. Partilhar riscos poderá ser a resposta para o problema…

No âmbito de uma conferência internacional dinamizada na cidade de Viseu, sob a égide da presidência portuguesa da União Europeia, e que se subordinou ao tema «Inovação farmacêutica: uma nova estratégia de Investigação e Desenvolvimento na UE», e que serviu de pano de fundo a uma discussão entre os vários agentes do sector farmacêutico em Portugal, João Almeida Lopes lamentou que “o número de novos produtos no mercado europeu tenha diminuído ao longo dos anos” e apontou o preço da aposta na pesquisa de novas fórmulas e moléculas. O responsável disse ainda que “nestas matérias há que procurar soluções conjuntas”, preconizando que deverá existir um aprofundamento do “modelo de risco partilhado em todas as fases do processo de desenvolvimento do medicamento”.
Representando o Governo no encontro, que definiu como parte de “uma marca que a presidência portuguesa deixa” naquela área, o secretário de Estado da Saúde foi peremptório na sua convicção de que, “de forma discreta”, o conceito defendido por João Almeida Lopes, da responsabilidade partilhada, “tem vindo a ser desenvolvido em Portugal, em alguns casos por intermédio de um mecanismo que diz respeito a contratos com empresas, nomeadamente com o Ministério da Saúde, e através do Infarmed, no momento de introdução do medicamento” no mercado, asseverando que se trata de “definir à partida quais são as responsabilidades mútuas e quais os limites de utilização desses novos medicamentos”. No final do encontro Francisco Ramos considerou que, tendo por base a discussão mantida em Viseu, é “evidente que vale a pena aprofundar mais o conceito”.
Opinião semelhante foi expressa, no âmbito da mesma reunião, pelo presidente da Autoridade Nacional do Medicamento e dos Produtos de Saúde (Infarmed). Vasco Maria considerou que “o modelo é possível”, e acrescentou mesmo, tal como tinha defendido o secretário de Estado, que “de alguma maneira essa responsabilidade partilhada e esse risco já estão a ser assumidos quando há um financiador público disposto a colaborar com a investigação”. Na opinião daquele responsável, “haverá muitas áreas em que esse risco partilhado vai expressar-se”, argumentando que na fase posterior à investigação, quando os medicamentos já estiverem disponíveis no mercado, também será possível aplicar aquele modelo.
Em declarações à Agência Lusa à margem do encontro, Vasco Maria avisou, no entanto, que aqueles medicamentos “continuarão a ser muito caros à chegada ao mercado”, defendendo a necessidade de os governos assumirem também a sua quota parte de responsabilidade, no sentido de viabilizarem o acesso dos doentes àqueles fármacos. “Nessa perspectiva – reiterou – continuaremos a ter esse risco partilhado, mesmo depois de os medicamentos chegarem ao mercado”. Para Vasco Maria, a conferência dinamizada pela presidência portuguesa da União Europeia em Viseu permitiu concluir que “há a necessidade de concertar esforços no sentido de promover a inovação farmacêutica e de pôr novamente o sector farmacêutico na Europa na posição cimeira que já ocupou”.

Carla Teixeira
Fonte: Agência Lusa, presidência portuguesa da União Europeia