
O imatinib – composto usado no tratamento de alguns tipos de cancro – pode combater também doenças vasculares. A descoberta da nova terapêutica deste fármaco pertence a três investigadoras portuguesas. O estudo será publicado na revista biomédica «Angiogenesis».
Sabiam que o fármaco era utilizado em células tumorais e decidiram investigar se, também, teria o mesmo efeito no combate à aterosclerose. A equipa de investigadoras do Serviço de Bioquímica da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) partiu de uma probabilidade, cujo estudo veio a validar. “O imatinib pode ser um bom agente terapêutico contra a arterosclerose, a restenose e outras doenças do foro vascular”, anunciou Ana Sofia Rocha, bióloga que desenvolveu a investigação.
Caracterizadas pelo crescimento anormal das células do músculo liso (as células de revestimento dos vasos sanguíneos) as doenças vasculares, especificamente, a aterosclerose continua entre as principais causas de doença e morte, em Portugal, embora já existam outros medicamentos capazes de bloquear o processo aterosclerótico.
Este facto não dissuadiu a equipa do Porto na procura de mecanismos alternativos. “Os resultados mostraram que o imatinib pode reverter a aterosclerose”, reforçou Raquel Soares (bioquímica que orientou o estudo), destacando ainda que o fármaco “pode evitar o reaparecimento de obstrução do vaso” (restenose) – que acontece, em muitos casos, após cirurgia.
Segundo explicou Ana Sofia Rocha, “nos ensaios constatámos que a incubação com imatinib reduzia a capacidade e viabilidade de migração das células do músculo liso”, revelando ainda que “foi encontrado um aumento significativo da percentagem de células mortas após o tratamento com o fármaco.”
Ressalvando que os ensaios feitos pertencem a uma fase preliminar, a investigadora antecipou que, o próximo passo de um longo caminho de ensaios clínicos, será “a utilização de modelos animais, nomeadamente, ratos com predisposição para a doença.”
Caso vingue, a descoberta de Ana Rocha, Raquel Soares e Isabel Azevedo pode significar um meio para reduzir o número drástico de Acidentes Vasculares Cerebrais (AVC) e enfartes do miocárdio.
De acordo com dados da Fundação Portuguesa de Cardiologia, 60% dos portugueses tem os níveis sanguíneos de colesterol elevados. Hipertensão arterial, obedidade, sedentarismo, tabagismo são factores que, equacionados ao colesterol, potenciam o risco de doenças vasculares.
Raquel Pacheco
Fontes: FMUP/Fundação Portuguesa de Cardiologia