quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Eficácia de anti-depressivos está a ser sobrevalorizada

Médicos e pacientes podem estar a ser iludidos relativamente à eficácia dos medicamentos anti-depressivos. De acordo com as conclusões de uma análise publicada na última edição do “New England Journal of Medicine”, os benefícios destes fármacos, observados durante os ensaios clínicos, estão a ser enfatizados para além dos seus efeitos reais.

A análise agora divulgada, baseada num conjunto de estudos não publicados e enviados à Administração Norte-Americana dos Alimentos e Fármacos (FDA) pelas farmacêuticas, revelou que muitos medicamentos têm pouco ou nenhum efeito nos pacientes. As conclusões indicam que tanto os médicos como os pacientes estão a receber uma visão distorcida da eficácia de alguns medicamentos como o Efexor (Venlafaxina), Zocor (Sinvastatina), Cymbalta (Duloxetina) ou Seroxat (Paroxetina).

Os investigadores examinaram vários estudos da FDA relativos a ensaios clínicos realizados entre 1987 e 2004, que envolveram 12 anti-depressivos amplamente utilizados, e contaram com a participação de 12.564 pacientes. Foi também tido em conta o facto de esses estudos terem ou não sido publicados, sendo que as análises publicadas foram posteriormente comparadas com as versões da FDA.

Esta observação permitiu aos investigadores concluir que eram os resultados a ditar a publicação das análises. Ou seja, a maioria dos estudos cujos resultados não eram positivos não foram publicados ou então foram publicados com um cunho positivo, isto é, enfatizando efeitos secundários positivos quando o efeito primário se revelou negativo.

De acordo com as conclusões desta nova análise, quase todos os estudos conduzidos (94 por cento) tinham resultados positivos, no entanto, os dados da FDA revelaram que, na realidade, apenas metade (51 por cento) dos estudos tinham efectivamente resultados positivos. De entre as análises com resultados favoráveis, todas foram publicadas. No entanto, a maioria (33 em 36) dos estudos que apresentavam resultados negativos não foram publicados ou foram divulgados como se os seus resultados tivessem sido positivos, contradizendo as conclusões da FDA.

“A publicação selectiva pode levar os médicos e os pacientes a acreditarem que os fármacos são mais eficazes do que o que realmente são, algo que poderá influenciar as decisões de prescrição”, salientou Erick Turner, professor assistente de psiquiatria, fisiologia e farmacologia na Universidade de Saúde e Ciência do Oregon, director médico do Programa de Distúrbios Comportamentais do Centro de Assuntos Médicos para Veteranos em Portland, e principal responsável pelo estudo em questão.

Marta Bilro

Fonte: Pharmalot, www.eurekalert.org.

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