quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Mistura de células humanas e animais com fins terapêuticos
Reino Unido autoriza embriões híbridos


A medida é polémica do ponto de vista científico, e no plano religioso já foi classificada pelo Vaticano como “monstruosa”. Dias depois de um grupo de especialistas britânicos em células-tronco ter avisado que o Reino Unido poderá perder o seu pioneirismo nesta área se o governo não autorizar a criação de embriões híbridos de animais e humanos, os reguladores anunciaram que provavelmente decidirão a favor daquele procedimento.

A Autoridade Britânica de Fertilidade Humana e Embriologia anunciou, na última quarta-feira, que “em princípio” dará a sua aprovação à polémica intenção do desenvolvimento de embriões híbridos, a partir da integração de ADN humano em óvulos de animais, com o objectivo de investigar aspectos ligados a patologias como Alzheimer ou Parkinson. A medida visa colmatar uma grave lacuna em termos de ovócitos humanos destinados à clonagem de embriões com fins terapêuticos, prática que já é permitida no Reino Unido, ao contrário do que ainda acontece na generalidade dos países europeus e do mundo. A ser autorizada a medida, os embriões híbridos terão 99,9 por cento de material genético humano e apenas 0,01 por cento de origem animal, e todas as experiências com aquele ADN terão de ser previamente autorizadas.
Os pedidos para a utilização daquelas células remontam a Novembro de 2006, e foram apresentados por grupos de cientistas do King’s College de Londres e da Universidade de NewCastle. Dizem respeito a óvulos de coelha ou vaca, “esvaziados” de quase toda a informação genética original, nos quais serão implantados núcleos com ADN de vários tipos de células humanas. Os investigadores pretendem extrair células embrionárias que lhes permitirão um combate mais eficaz contra algumas doenças neurodegenerativas e lesões graves da espinal-medula. A decisão oficial relativa a este polémico tema deverá ser tomada nos próximos dias, devendo depois passar pelo parlamento inglês onde, até final do ano, será legislada. Segundo a autoridade que regula as questões da bioética no Reino Unido a maioria dos especialistas consultados mostrou-se “favorável à criação de embriões híbridos citoplásmicos”.
A Santa Fé foi a primeira instância da esfera não política ou científica a reagir à notícia, considerando que, a confirmar-se a decisão de autorização do Reino Unido, estar-se-á a dar corpo a um “acto monstruoso”. Monsenhor Elio Sgreccia, presidente da Academia Pontifical para a Vida no Vaticano, frisou, em declarações à Rádio Vaticano, que “é um acto monstruoso que atenta contra a dignidade humana”, exortando nessa medida a comunidade científica a “mobilizar-se o mais rapidamente possível. Acreditamos que o governo britânico cedeu diante dos pedidos imorais de um grupo de cientistas”, vincou.

Carla Teixeira
Fonte: Ciência Hoje, RTP, AFP, Radio Vaticano, Globo Online

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