sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Comércio paralelo de medicamentos põe em risco segurança dos pacientes

O circuito paralelo de comércio de medicamentos na Europa está a preocupar os especialistas do sector que alertam para a necessidade de uma revisão urgente à cadeia de distribuição para não pôr em causa a protecção dos pacientes. A Aliança Europeia para o Acesso a Medicamentos Seguros (EAASM na sigla inglesa) apresentou um relatório no Parlamento Europeu que traça o perfil do comércio farmacêutico paralelo na Europa e fala das implicações dos canais de distribuição europeus na segurança dos doentes.

Dados recentes divulgados pela União Europeia (UE) indicam que, durante o ano passado foram confiscados nas fronteiras da UE mais de 2,7 milhões de medicamentos falsificados, um aumento de 384 por cento relativamente aos números do ano anterior, com 560.568 falsificações apreendidas. Este é um indicador de que os medicamentos contrafeitos existem praticamente em toda a Europa e não apenas na Europa de Leste.

As vias de entrada dos fármacos contrafeitos no Continente Europeu são cada vez mais hábeis, tendo-se transformado numa actividade que deixou de ser efectuada apenas através da Internet. De acordo com Jonathan Harper, autor deste estudo e um dos principais especialistas europeus em medicamentos falsificados e na cadeia de distribuição, o mais preocupante é o facto dos medicamentos contrafeitos terem chegado este ano aos pacientes do Reino Unido através de um comércio farmacêutico paralelo, dando origem a uma ordem de recolha do mercado de Classe I por parte da autoridade reguladora do país, o que significa que existiam sérios riscos para a saúde, incluindo o de morte.

O sistema europeu de distribuição de fármacos é extremamente complexo, confuso e desregulado, com níveis múltiplos e cadeias paralelas de distribuição, uma situação que coloca os pacientes em risco, alerta o responsável pelo relatório. Os cidadãos europeus recebem medicamentos que podem ter estado em 20 mãos diferentes, através de países com idiomas e sistemas de licenciamento distintos. Assim, e por uma questão de saúde pública, deveria ser possível saber onde é que determinados medicamentos se encontram numa determinada altura, algo que não se verifica, refere Harper.

Para além disso, existe um grande factor de invisibilidade, que dissimula o verdadeiro alcance da presença de medicamentos falsificados na Europa. Esta camuflagem deve-se não só à própria natureza dos produtos farmacêuticos, mas também ao facto dos medicamentos falsificados serem sempre difíceis de detectar em comparação com outros produtos contrafeitos. A este problema acresce ainda a falta de consciencialização sobre a ameaça que representam os medicamentos contrafeitos, uma situação que já tinha sido denunciada pelo Farmacia.com.pt aquando da divulgação do relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) acerca deste fenómeno.

Com base na sua análise ao problema, Jonathan Harper deixa um conjunto de vinte recomendações específicas, das quais, doze dizem respeito ao comércio farmacêutico paralelo, que complica a cadeia europeia de distribuição de várias maneiras. “Devido à crescente preocupação em torno da segurança da distribuição, em particular, e á ameaça dos medicamentos falsificados, adulterados e desviados dos controles, existem boas razões para rever todas as operações comerciais de produtos farmacêuticos na Europa”, defende o especialista.

Marta Bilro

Fonte: PM Farma, Pharma Times.

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