sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Identificado gene relacionado ao comportamento obsessivo-compulsivo em ratos

Dois bioquímicos portugueses estiveram envolvidos na investigação

Uma equipa de cientistas conseguiu curar quase na totalidade um grupo de ratos de laboratório com Transtornos Obsessivos Compulsivos (TOC), que se arranhavam a ponto de arrancar o pêlo e a pele. De acordo com os resultados da investigação, divulgados pela revista “Nature”, o sucesso foi atingido depois de lhes ser injectado um gene que lhes faltava. Cátia Feliciano e João Peça, dois bioquímicos portugueses, estiveram envolvidos na pesquisa.

O estudo, conduzido por Jeffrey Welch e Guoping Feng, da Universidade Duke, na Carolina do Norte, foi realizado com roedores aos quais se retirou previamente o gene 'Sapap3', através de manipulação genética. Nos humanos doentes com TOC são observadas lesões ou diferenças de funcionamento numa zona do cérebro chamada 'estriado', local onde abunda a proteína produzida por este gene. Ao apagarem a proteína nos ratos, os cientistas descobriram que, passados alguns meses, os animais se arranhavam compulsivamente. Por sua vez, depois de lhes ter sido injectado o gene em falta, a maioria de ratos não desenvolveu a doença.

Os investigadores acreditam que o trabalho “sugere novas estratégias terapêuticas”. O Transtorno obsessivo-compulsivo consiste na combinação de obsessões e compulsões. Pensamentos recorrentes insistentes que se caracterizam por serem desagradáveis, repulsivos e contrários à índole do paciente. Entre os sintomas compulsivos mais comuns está a obsessão da limpeza, da simetria, e das dúvidas e medos irracionais. Lavar-se para se descontaminar, repetir determinados gestos, verificar se as coisas estão como deveriam, porta trancada, gás desligado, contar objectos, ordená-los ou arrumá-los de uma determinada maneira, são atitudes comuns entre os 2 por cento da população mundial afectada pelos TOC.

O paciente perde o controlo sobre os pensamentos e, muitas vezes, passa a praticar actos que, por serem repetitivos, tornam-se rituais. Muitas vezes têm a finalidade de prevenir ou aliviar a tensão causada pelos pensamentos obsessivos. Estes gestos repetitivos que o paciente não consegue evitar são chamados «compulsivos». O tratamento usual, que consiste na terapia comportamental associada a anti-depressivos é ineficaz em um terço dos casos.

O TOC é classificado como um transtorno de ansiedade pela forte tensão que é comum surgir quando o paciente é impedido de realizar os seus rituais. O facto do comportamento dos roedores do estudo e da sua ansiedade apresentar muitas semelhanças com o comportamento obsessivo-compulsivo humano, poderá servir aos investigadores como um modelo animal sobre estes problemas.

Porém, “nada permite afirmar que os TOC humanos estão ligados a este gene”, porque eles não são uniformes e revelam elementos complexos, implicando provavelmente muitos genes, adverte o neurobiologista norte-americano Steven Hyman, da Universidade de Harvard. Para além disso, destaca o especialista, “é extremamente pouco provável que modelos animais possam integrar os problemas psiquiátricos humanos na sua totalidade”.

Marta Bilro

Fonte: Lusa, Diário Digital, Ciência Hoje, Psicoterapia.

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