sábado, 18 de agosto de 2007

REPORTAGEM

Em Agosto de 1960 arrancava a verdadeira revolução sexual...
Pílula anticoncepcional completou 47 anos


O conservadorismo da sociedade em relação ao comportamento sexual, que até 1960 tinha como grande aliada a associação exclusiva e quase imediata da ideia de sexo ao conceito de reprodução, começou a cair por terra há exactamente 47 anos. Foi no dia 18 de Agosto de 1960 que, dando seguimento a uma aprovação concedida em Maio do mesmo ano pela Food and Drug Administration (FDA), era introduzido no mercado farmacêutico norte-americano, com a chancela da Searle Drug Company, o primeiro contraceptivo oral. Tinha a designação comercial de Enovid-10, mas rapidamente assumiu, em todo o mundo, um nome muito mais simples. A “pílula” alavancou uma verdadeira revolução à escala global...

“Um dia histórico e um tremendo passo à frente”. Foi assim que, no ano seguinte (a 1 de Junho de 1961), a revista alemã «Der Stern» fez manchete com a notícia da introdução no mercado germânico, com a designação comercial de Anovlar – uns comprimidos verdes cujas indicações terapêuticas no folheto incluso referiam a sua utilidade “para aliviar os sintomas desagradáveis da menstruação” – de um fármaco que, diversamente de tudo o que tinha acontecido até àquela altura, foi aprovado para um efeito que não contemplava a luta contra qualquer sintoma de doença. A pílula libertou a sexualidade de uma série de angústias, permitindo às mulheres de todo o mundo conceber a ideia de que poderiam ter sexo sem correr o risco de engravidar, rompendo com a visão anterior de que as relações sexuais só poderiam ter como finalidade a procriação.
A contracepção oral começou a ser moda em todo o mundo – chegou a Portugal e ao Brasil em 1962 –, gerando enormes lucros para a indústria farmacêutica, ao mesmo tempo que semeava nas tradicionalmente dominantes mentes masculinas o receio da infidelidade das esposas e namoradas. O momento alto da pílula veio a seguir, com o Woodstock e os hippies, a efervecência do movimento estudantil e o avanço do feminismo, mas foi preciso pouco tempo para que começassem a circular as notícias relativas aos seus efeitos colaterais, que há cerca de quatro dezenas de anos incluíam o perigo de trombose. Os laboratórios prosseguiram os estudos, e anos depois desenvolveram novas soluções de contracepção, como a mini e a micropílula, com dosagens hormonais mais baixas, e mais recentemente a pílula do dia seguinte, o adesivo contraceptivo ou o implante de hormonas.

História e evolução
A história da pílula anticoncepcional tem início ainda nos anos 50, na sequência de um desafio lançado pela feminista Margaret Sanger e pela milionária Katherine McCormick à comunidade científica, no sentido da criação de um método contra a gravidez que fosse fácil de usar, mais cómodo do que os existentes, eficiente e barato. O investigador Gregory Pincus aceitou o repto, mas durante anos teve de trabalhar às escondidas, uma vez que os contraceptivos estavam oficialmente proibidos nos Estados Unidos, situação que se prolongou até à década seguinte. Alegando que estava a tentar responder à necessidade de aliviar os sintomas menos cómodos da menstruação, demorou cinco anos a desenvolver a pílula que em 1960 foi baptizada como Enovid-10.
Actualmente as pílulas de baixa dosagem são muito mais seguras do que as suas congéneres mais antigas, mas há estudos que apontam para um risco elevado de trombose venose profunda às chamadas pílulas de terceira geração, apesar de o perigo ser muito reduzido em mulheres saudáveis, não fumadoras e que tenham menos de 35 anos, aumentando significativamente nas mulheres mais velhas e que fumem, designadamente no que diz respeito à incidência de doenças ligadas ao aparelho circulatório.

Carla Teixeira
Fonte: «Deutche Welle», «Século XXI», SIC, «British Medical Journal», Bibliomed, «Archives of Internal Medicine», JAMA

2 comentários:

Rui Borges disse...

Excelente o artigo. Pena ter sido publicado no final do dia!

Carla Teixeira disse...

Concordo. Deveria ter sido antes, mas não tive forma de pegar neste assunto antes, e acho que mesmo assim vai a tempo. Assim espero...