quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Organismo pode suspender cancro

Estudo comprova existência de fase em que o sistema imunitário mantém células cancerosas dormentes; novas terapias poderão advir da descoberta

À luz da comunidade científica há, sumariamente, três estados de desenvolvimento no processo de formação de cancro: iniciação, promoção, progressão. Entretanto, um novo estudo norte-americano publicado, este mês, na revista «Nature», sugere a existência de um outro: o de suspensão.

De acordo com a investigação - coordenada por Robert Schreiber, da Faculdade de Medicina da Universidade de Washington (FMW), nos Estados Unidos - neste novo estado as células são potencialmente nocivas, mas ainda estão proibidas de actuarem. “Quem as proíbe é o sistema imunitário que as mantém num estado de dormência e em equilíbrio. Aquelas que escapam, são as que acabam por se desenvolver como tumores”, explicou.

Segundo destaca a «Nature», o trabalho norte-americano identificou um “estágio crucial na batalha das células, um ponto no qual o mecanismo de defesa trava a expansão do cancro que conseguiu escapar à monitorização inicial feita pelo organismo.” A revista salienta ainda que o estudo poderá “ajudar no desenvolvimento de terapias para ampliar o equilíbrio e evitar a manifestação da doença.”

A equipa de Robert Schreiber, do Departamento de Patologia e Imunologia da FMUW usou ratinhos para mostrar que o sistema imunitário dos animais é capaz de manter o crescimento do tumor “em xeque” por um longo período: “É como se, de um lado, houvesse uma corda a ser puxada pelas células que se querem transformar em cancro e, do outro, pelo sistema imunitário”, clarificaram.

No artigo intitulado «Adaptive immunity mantains occult cancer in an equilibrium state», os investigadores informam, terem usado “um modelo animal de carcinogénese química primária”, relatando terem verificado que o equilíbrio ocorre. “Demonstrámos que células tumorais em equilíbrio não estão editadas [no sentido do arranjo genético], mas passam a estar quando escapam espontaneamente do controlo e crescem em tumores clinicamente aparentes.”

Explicar tumor próstata assintomático

Os cientistas acreditam ainda que o estado agora confirmado “deverá ajudar a explicar a presença de células cancerosas ocultas, especificamente, os tumores na próstata (em indivíduos que não apresentem sintomas da doença).

Outra esperança refere-se ao facto da descoberta poder abrir caminho a novos tratamentos. “Estamos convictos de que o estudo pode ser usado para o desenvolvimento de terapias imunológicas que permitam ampliar o controle do crescimento de tumores próprio do organismo”, afirmaram.

De referir que, estudos anteriores haviam sugerido a existência desse estado de equilíbrio, devido ao facto de que tipos dormentes de cancro costumam manifestar-se quando transferidos, inadvertidamente, de um determinado doador para um receptor com imunossupressão, durante transplante de órgão.

Raquel Pacheco

Fonte: http://www.nature.com/nature/journal/vaop/ncurrent/full/nature06309.html
Foto: DR

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