quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Prémio Crioestaminal para investigadora portuguesa

Mónica Bettencourt Dias desvendou o funcionamento do centrossoma; Moléculas decifradas poderão ser utilizadas no diagnóstico e tratamento de doenças

A identificação de moléculas que contribuem para a formação dos centrossomas - um trabalho com implicações no diagnóstico da infertilidade e do cancro - valeu à investigadora portuguesa Mónica Bettencourt Dias o Prémio Crioestaminal em Investigação Biomédica 2007.

"O trabalho de investigação [de Mónica Bettencourt Dias] revela informações importantes sobre a estrutura das células responsável pela infertilidade e pelo cancro, algo inédito no panorama científico", refere em comunicado a Associação Viver a Ciência (AVC), que atribuiu, esta semana, o prémio de incentivo científico no valor de 20 mil euros.

Segundo informa a nota, a jovem cientista identificou as moléculas que contribuem para a formação e função dos centrossomas - as estruturas que regulam o esqueleto e a multiplicação das células.

Cada uma das células do corpo humano tem apenas um centrossoma, mas em casos de doenças, como o cancro, há frequentemente muitos mais, apresentando uma estrutura alterada.

De acordo com o comunicado da AVC que o farmacia.com.pt teve acesso, o trabalho da investigadora - publicado em prestigiadas revistas como a «Nature», a «Science» e a «Current Biology» - “avançou no conhecimento das moléculas envolvidas na formação e função dos centrossomas e permite diagnosticar de forma precoce se elas apresentam alguma alteração associada a alguma patologia.”

Mónica Bettencourt Dias explicou que "o grupo está a investigar as novas moléculas envolvidas na formação do centrossoma, o que é muito importante, pois tanto a ausência como o excesso destas estruturas estão associados a doenças variadas."

Este prémio, para o incentivo do desenvolvimento de investigação em Portugal (no valor de 20 mil euros) é o terceiro que a jovem cientista do Instituto Gulbenkian de Ciência, em Oeiras, recebe nas últimas semanas.

Na passada semana, a investigadora de 33 anos, foi a primeira da Península Ibérica a receber o Prémio Europeu Eppendorf pelos seus estudos na área da multiplicação celular, um prémio atribuído anualmente a jovens cientistas europeus com trabalhos na área da biomedicina.

Na senda do reconhecimento que a comunidade científica portuguesa têm vindo, concomitantemente, a desenvolver, Mónica Bettencourt Dias recebeu ainda o Prémio Pfizer de Investigação Básica 2007, no valor de 20 mil euros, em conjunto com a investigadora Ana Rodrigues Martins, pelo projecto de investigação "Revisiting the role of the mother centriole biogenesis", desenvolvido em colaboração com as Universidades de Cambridge e de Siena.

No ano passado, o prémio o Prémio Crioestaminal em Investigação Biomédica distinguiu o jovem investigador Helder Maiato, do Instituto de Biologia Molecular e Celular do Porto, por um projecto relacionado com a compreensão da multiplicação celular.

É indubitável que uma das formas de prevenir o cancro é através do seu diagnóstico precoce. Neste sentido, ao identificar as moléculas envolvidas na formação e função dos centrossomas, poder-se-á investigar se elas estarão alteradas no cancro. Nesse caso, poderão servir de marcadores de diagnóstico e prognóstico do cancro.

Esclareceu mistério com mais de 100 anos

Recorde-se que, tal como noticiou oportunamente o farmacia.com.pt, o laboratório desta investigadora descobriu, em Maio, alguns dos mistérios da formação do centrossoma. Quase todas as células humanas têm uma espécie de torre de controlo, como nos aeroportos. Pouco antes de se dividirem, têm de fazer uma segunda torre de controlo para a nova célula. O que acontece, é que, até ao momento, pensava-se que a torre velha tinha de servir de molde para a nova.

Assim, a equipa de Mónica Bettencourt Dias descobriu que, afinal, essa construção faz-se a partir do nada — um avanço científico que pode dar pistas sobre o cancro e a infertilidade masculina. De referir que, as torres de controlo das células, (metáfora de Mónica Bettencourt Dias para designar os centrossomas) foram descobertas há mais de 100 anos, tendo, deste modo, a investigadora contribuido para esclarecer um mistério secular.

Raquel Pacheco

Fontes: comunicado da AVC/www.crioestaminal.pt/farmacia.com.pt

Sem comentários: