sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Parafarmácias cedem à competitividade do sector

14 estabelecimentos fecharam desde 2005

Desde 2005, altura em que surgiram em Portugal as primeiras parafarmácias, 14 estabelecimentos já fecharam e dois foram trespassados. Estes são números da Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde (Infarmed) que espelham as contrariedades inerentes à implantação deste negócio num mercado fortemente dominado pelas farmácias. Actualmente há 485 postos autorizados e 35 ainda por abrir.

Os dados do Infarmed, divulgados pelo jornal Diário de Notícias, referem que, no mês de Julho, houve 335 lojas de medicamentos a comunicarem vendas, entre as quais a facturação ascendeu aos 743 mil euros. No entanto, grande parte destas lojas de venda de medicamentos (41%) é detida pelo grupo Modelo Continente, que possui com 31 estabelecimentos do género. Contas feitas, restam 438 mil euros a dividir por 305 lojas, o que significa que, por dia, estas parafarmácias rendem, em média, 48 euros. Por cálculo de embalagens, a média situa-se nos 10 medicamentos vendidos. A estes subtraem-se ainda cinco estabelecimentos pertencentes ao Pingo Doce e outros sete à cadeia de supermercados Jumbo, cujas características dimensionais lhe permitem receitas distintas.

Ainda assim, há quem não esteja admirado com a realidade dos números. Carlos Vicente é responsável pela Botica Fialho Vicente, a primeira loja que, em Outubro de 2005, começou a vender remédios em Mem Martins. Apesar de não ter queixas do negócio, até porque, segundo explica, tem como equilibrar os lucros, assume que a situação não está fácil. “O negócio não nos tem corrido mal, porque temos também uma farmácia e conseguimos negociar melhor com os fornecedores”, refere. Porém, “há muitas lojas que já não estão a vender. Confesso que não sei como muitas se aguentam...”, acrescenta.

Ainda que as vendas corram bem, os medicamentos não chegam para tornar o negócio rentável. "São mais de 1500, mas têm preços à volta de cinco euros. Um creme custa trinta euros, uma aspirina três. Veja quantas aspirinas tenho que vender..." Por isso, "os medicamentos funcionam como um chamariz porque as pessoas aproveitam e levam outros produtos", refere. Há ainda as dificuldades e barreiras que têm que ser ultrapassadas junto dos distribuidores. "Alguns nem estacionam as carrinhas em frente às lojas, para evitar complicações com as farmácias", exemplifica.

Pedro Reis, proprietário de uma loja em Setúbal, confirmou o rol de entraves que se colocam ao negócio. "Primeiro tivemos que conquistar a confiança dos clientes, explicar que só vendemos alguns medicamentos e não outros. Depois continuamos com condições muito diferentes daquelas que os fornecedores oferecem às farmácias ou às grandes cadeias, como o Modelo, que apostaram forte neste mercado. As pessoas tinham a imagem das farmácias, mas depois perceberam que a base de facturação é muito diferente e é um negócio muito trabalhoso", afirmou o responsável em declarações ao DN.

Segundo Pedro Reis, os laboratórios e os grossistas continuam a tratar lojas e farmácias de forma distinta. Enquanto às farmácias são concedidas facilidades de pagamento e medicamentos a preços mais vantajosos, “as lojas têm que pagar sempre a pronto”, lamenta. “Depois, nós até os portes de envio temos que pagar”, o que se traduz num "esforço muito grande para não subir os preços" e manter o negócio aberto. Há ainda o facto das parafarmácias disponibilizarem os dados das vendas e preços ao Infarmed, que os divulga no seu site, algo que as coloca em desigualdades face às farmácias. “É outra vantagem competitiva das farmácias", enumera Pedro Reis.

Marta Bilro

Fonte: Diário de Notícias

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