segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Analgésicos têm escassa comparticipação em Portugal

Em Portugal, são os doentes que suportam a maior parte dos encargos financeiros relativos aos analgésicos. A taxa de comparticipação destes medicamentos no país é uma das mais baixas da União Europeia, alerta o presidente da Associação Portuguesa para o Estudo da Dor, que pretende que essa comparticipação aumente dos 37 para os 95 por cento.

“A taxa de comparticipação de analgésicos em Portugal é muito baixa relativamente à da esmagadora maioria dos países europeus, já que nalguns países os analgésicos opióides são até gratuitos, com comparticipações de 100 por cento”, salientou o médico José Romão, em declarações à Lusa, esta segunda-feira, dia em que começa a Semana Europeia Contra a Dor, este ano dedicada à mulher.

O ideal, de acordo com a Associação Portuguesa para o Estudo da Dor, seria que a comparticipação para os analgésicos fosse de 95 por cento, a máxima permitida pelo Ministério da Saúde. Até porque, a falta de recursos não pode justificar “que doentes com dor crónica não possam ser tratados”, salientou José Romão.

Em Portugal há um sério contraste que se verifica entre a baixa taxa de comparticipação dos analgésicos comparativamente à comparticipação de 69 por cento dos anti-inflamatórios, que têm “muitos efeitos laterais que são potencialmente graves”, como sangramentos ou úlceras gástricas e pépticas.

O consumo de analgésicos opióides por pessoa em Portugal é seis vezes inferior ao de Espanha, 12 vezes inferior a França, 15 vezes da Alemanha e fica 20 vezes abaixo do registado no Reino Unido, indicam dados da Organização Mundial de Saúde referentes a 2004.

A “maior probabilidade” das mulheres, relativamente aos homens, para apresentarem “dores múltiplas simultâneas” faz com que, este ano, a Semana Europeia Contra a Dor seja dedicada ao sexo feminino. Segundo explicou José Romão, são os factores hormonais e biológicos que explicam e condicionam várias patologias que afectam mais as mulheres. A Semana Europeia surge também da necessidade de “agitar o meio científico” e chamar a atenção de clínicos e investigadores para as diferentes necessidades das mulheres em matéria de controlo da dor.

A situação não é nova e já tinha sido abordada pelo Farmacia.com.pt num artigo dedicado ao tratamento da dor oncológica. O trabalho, no qual se destacavam as barreiras que se colocam no acesso a estes fármacos tanto por parte do doente como do profissional de saúde, alertava também para o facto de na maioria dos países comunitários os medicamentos para a doença crónica, onde se inclui a dor oncológica, serem comparticipados a 100 por cento pelo Estado. Por sua vez, “em Portugal, e à luz da legislação vigente, o doente de ambulatório tem que suportar um encargo financeiro de pelo menos 45 por cento, da sua medicação antiálgica”, refere um relatório do primeiro P.A.I.N. (Pain Associates International Network) workshop realizado em território nacional, em 2004, sob o tema “Barreiras ao adequado tratamento da Dor Oncológica em Portugal”.

Dor interfere de forma grave no trabalho de 85% dos doentes

Um estudo realizado em pessoas que frequentam unidades de dor crónica nos hospitais portugueses revelou que em 85 por cento dos doentes, a dor interfere de forma moderada ou grave no trabalho. Um problema que poderia ser minimizado, uma vez que se devidamente utilizados, os medicamentos permitem controlar a dor em cerca de 95 por cento dos casos.

Um outro trabalho levado a cabo em 2003 pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge indica que 26 por cento dos doentes sente que a dor tem impacto no seu trabalho; quinze dias de trabalho por ano são perdidos devido à dor e um em cada cinco doentes perde o seu emprego (19%). Para além disso, 74 por cento dos portugueses afirmaram ter tido pelo menos um episódio de dor e 50 por cento manifestaram ter tido mais de um tipo de dor. Entre as dores mais frequentes estão as dores lombares (51%), dores nos ossos e articulações (45%) e dores de cabeça (35%).

Marta Bilro

Fonte: Diário Digital, Lusa, Público, Associação Portuguesa Para o Estudo da Dor, E-mail do Farmacia-Press, Farmacia.com.pt.

Sem comentários: