quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Médico madeirense alerta para os riscos...
Proibir condução sob efeito de medicamentos


O presidente do Conselho Distrital da Madeira da Ordem dos Médicos, França Gomes, é apologista da imposição de uma proibição de conduzir a pessoas que estejam sujeitas aos efeitos de medicamentos psicotrópicos que, afirma, são mais penalizadores do que o álcool. O clínico argumenta que o facto de estarem a ser medicados não deverá servir de desculpa para que aqueles condutores não sejam autuados pelas suas infracções.

Comentando o novo regulamento de fiscalização de álcool e substâncias psicotrópicas, e de acordo com a edição desta quarta-feira do «Jornal da Madeira», França Gomes diz que “há uma lacuna que a lei não define”, e que tem a ver com o facto de “um indivíduo apanhado com um determinado tipo de medicação poder ir ao hospital, fazer prova de que está a tomar aqueles fármacos e acabar por não ser autuado” por eventuais delitos cometidos, à luz do Código da Estrada. Um conceito profundamente errado, na opinião daquele responsável, já que “há medicações muito fortes que fazem com que a pessoa não tenha, claramente, capacidade para conduzir”.
Há também “certos tipos de automedicação”, designadamente os que se prendem com a administração de fármacos para o tratamento da ansiedade ligeira, para problemas do sistema nervoso central e para adormecer, que deveriam levar o próprio médico, no acto da prescrição, a impedir o doente de conduzir. No entanto, recorda França Gomes, alguns desses produtos estão hoje disponíveis nas farmácias e nos supermercados, são de venda livre e podem ser adquiridos por qualquer pessoa à revelia do aconselhamento médico. “Dá a sensação de que o que interessa é o álcool e as drogas, mas actualmente há drogas à venda nas farmácias, nos supermercados e nas bombas de gasolina, e que são tão ou mais nocivas para a condução do que o próprio álcool”, atesta França Gomes ao «Jornal da Madeira».
Em contrapartida à visão crítica do presidente do Conselho Regional da Madeira da OM, o psiquiatra Luís Filipe Fernandes sublinha que a maior parte dos medicamentos usados no tratamento de doentes psiquiátricos não contêm qualquer substância pesquisável nos testes que, a partir de agora, poderão ser feitos pelas autoridades na estrada. De acordo com aquele especialista, os detectores de drogas que a polícia poderá começar a utilizar visam aferir da presença de substâncias como heroína, haxixe ou anfetaminas, que não estão presentes nos medicamentos prescritos àqueles doentes.
Luís Filipe Fernandes reconhece, porém, que há determinadas substâncias que poderão ser detectáveis naqueles doentes, que aconselha a estarem sempre munidos de uma fotocópia da prescrição médica do tratamento. É o caso de alguns medicamentos para a dor. O médico assevera, contudo, que “análises complementares posteriores indicarão se as substâncias detectadas estão a ser usadas para fins terapêuticos ou como abuso”. No acto da prescrição, advoga, os médicos devem alertar os doentes para os possíveis efeitos dos produtos farmacológicos a que os submetem.

Carla Teixeira
Fonte: Jornal da Madeira

Sem comentários: