domingo, 3 de junho de 2007

Portugal não fiscaliza mercado de plantas medicinais

A fitoterapia é um tipo de medicina complementar, que tem por base os compostos das plantas. Actualmente, muitos são os produtos vendidos em supermercados e ervanárias que se apoiam nessa mesma base. Desde cosméticos a produtos alimentares e farmacêuticos, até detergentes, todos eles nos são apresentados como milagrosos. A publicidade afirma os seus benefícios, mas o facto é que em Portugal não existe qualquer tipo de controlo ou legislação, que regule este mercado.
Em 2011, Portugal será obrigado a transcrever para a legislação nacional a directiva comunitária, de 2004, sobre os medicamentos tradicionais à base de plantas. A directiva pretende garantir a segurança e eficácia de todos os medicamentos de fitoterapia, que se encontrem à venda no mercado.
De acordo com Rosa Seabra, da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, “não há duvida que as plantas têm compostos e que muitos deles têm uma acção benéfica para a saúde, não é por acaso que se fala na alimentação mediterrânica, mas é preciso conhecê-los bem, porque há os compostos vulgares, o pronto a vestir das plantas, e os raros, os Christian Dior”.
Dá como exemplos as flavonóides, que estão presentes em todos os legumes e verduras, “que não são tóxicos e inclusive existem medicamentos que os têm por base, como o Venex, para tratar casos leves de hemorróidas”. Por outro lado, existem compostos altamente tóxicos, mas fundamentais em termos medicinais, “como é o caso da cocaína, que vem da coca, e a morfina que vem da papoila do ópio”, sublinhou.
De acordo com a directiva europeia, estes medicamentos passarão a estar registados no Infarmed, "os que tenham indicações terapêuticas comprovadas cientificamente, terão que submeter o remédio a autorização", esclareceu Rosa Seabra.
Apesar de algumas capacidades terapêuticas terem já sido comprovadas, é preciso não esquecer que existem também desvantagens e efeitos secundários, decorrentes do uso destes medicamentos. Rosa Seabra aponta o exemplo do hipericão, um anti-depressivo natural, utilizado em situações ligeiras e médias. Contudo, “a determinada altura os alemães conseguiram perceber que esta planta tem também um efeito anti-retrovírico e fabricaram comprimidos (extractos de hipericão com álcool e água), o problema é que este composto activa uma enzima que acelera a metabolização de alguns medicamentos. Resultado, alguns doentes com sida tomavam, por exemplo, dois comprimidos químicos e também grandes doses de hipericão, a dose dos fármacos no sangue era igual a meio comprimido”, explicou a especialista.
Desde 1983 que a OMS investiga os compostos das plantas, apresentando monografias com normas para a sua aferição.

Inês de Matos

Fonte: Jornal de Noticias

1 comentário:

Rui Borges disse...

Bom artigo. Originou uma nova categoria: Farmácia Clínica/Plantas Medicinais