segunda-feira, 16 de julho de 2007

Novos casos de BSE encontrados no conselho de Vila nova de Famalicão

Apesar de prever que surgem novos casos em Portugal, o neurologista Cortez Pimentel acredita que esta nova versão humana da BSE vai desaparecer.

Na sexta-feira, o Hospital de S. João, no Porto, enviou à Direcção-Geral de Saúde um relatório a confirmar que a nova variante da Doença de Creutzfeldt-Jacob (a versão humana da BSE) foi a causa da morte de um rapaz de Famalicão em Abril.
Isto torna-se alarmante visto que há um segundo caso provável da nova variante da Doença de Creutzfeldt-Jacob (DCJ), detectado numa rapariga de 14 anos também da zona de Famalicão.Este dado ainda não está confirmado, uma vez que o diagnóstico definitivo só é conseguido por autópsia.
Para Cortez Pimentel,neurologista e antigo coordenador do Programa de Vigilância de Doenças Humanas Por Priões, a explicação para os dois únicos casos suspeitos em Portugal serem da zona de Famalicão pode ser a grande incidência que a BSE teve na região do Douro e Minho.
O neurologista afirma ser "natural que nessa zona apareçam mais casos, porque foi uma zona que era fonte de contaminação, uma vez que mais de metade dos casos de BSE em Portugal apareceu na zona de Entre Douro e Minho".
Cortez Pimentel alertou ainda que Portugal "está em cima de um período de incubação" da doença, prevendo que mais casos vão aparecer, apesar de não adiantar qualquer estimativa.
Todavia, o médico acredita que a nova variante da DCJ "é uma doença que vai morrer", muito devido às medidas que foram aplicadas para o controlo da BSE, "que se revelaram eficazes".
O médico salientou que até em Inglaterra,onde surgiu a BSE,"Há cada vez menos casos detectados todos os anos. Se não se deu uma epidemia até agora, como se chegou a prever, acho que a doença vai acabar por morrer", justificou.
O Reino Unido é o país com mais casos diagnosticados da nova versão da DCJ, com mais de 150 pessoas atingidas, seguindo-se a França, com mais de uma dezena de casos.
O neurologista do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, sublinhou que o importante é "os médicos estarem de sobreaviso" para a possibilidade de surgirem casos.
"Não sei qual será a capacidade de os nossos clínicos pensarem nesta doença. Não sei se essa capacidade é ou não grande. Mas devem estar de sobreaviso", comentou à Lusa.
"Caso surja qualquer pessoa com menos de 50 ou 40 anos com quadro neurológico progressivo para o qual não temos um diagnóstico devemos pensar nessa possibilidade", insistiu.
Apesar de ser unanimemente aceite a relação entre a nova variante da DCJ e a BSE, os meios de transmissão não estão totalmente esclarecidos aos olhos dos cientistas.
Cortez Pimentel adiantou que as transfusões de sangue e a contaminação por instrumentos cirúrgicos são outras possibilidades de transmissão.
Uma das certezas da comunidade científica é que a realização da autópsia é determinante para o diagnóstico, ainda que seja possível em vida identificar clinicamente a nova variante da DCJ.
Entre a nova variante e a tradicional DCJ há muitas diferenças, que vão desde os sintomas ao tempo de incubação.
A DCJ clássica, que nada tem a ver com o consumo de carne de vaca, leva à morte em menos de um ano, afecta pessoas entre os 70 e os 80 anos e caracteriza-se por uma demência que progride muito rapidamente.
Já a nova variante começa nos primeiros meses a caracterizar-se por estados depressivos, ansiosos e esquizofrénicos, associados a dores em várias partes do corpo.
Depois, surgem em catadupa vários sintomas neurológicos, como descoordenação motora ou a realização de movimentos involuntários.
A demência progressiva faz parte do quadro final da doença, que tem um período de incubação que pode ir dos seis aos 15 anos.


Sandra Cunha

Fonte:Lusa

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