terça-feira, 5 de junho de 2007

Acordo na forja para tratamento da malária

Governo moçambicano e Novartis negoceiam fornecimento
Acordo na forja para tratamento da malária

Há quase uma década que a suíça Novartis liderou uma autêntica revolução no que respeita ao tratamento da malária. O continente africano, onde a doença mata mais de um milhão de pessoas por ano – afectando nomeadamente mulheres grávidas e crianças com menos de cinco anos de idade –, tem sido o mais afectado por aquela patologia. Por isso, está na forja um acordo entre aquele laboratório farmacêutico e o governo moçambicano, para o fornecimento do Coartem, um dos medicamentos disponíveis no mercado mais eficazes no combate à doença.

O ministro da Saúde de Moçambique, Richard Nduhura, considerou que a malária é “mais do que uma mera doença no continente africano”, revelando implicações em aspectos essenciais da vida dos indivíduos, das famílias, da comunidade e do país. Por isso, o governo moçambicano pretende chegar a um acordo com a Novartis, no sentido de melhorar o fornecimento do Coartem, fármaco que, em Abril de 2005, foi considerado pela revista científica «The Lancet», devido à sua taxa de sucesso de 95 por cento, como “o tratamento mais eficaz da malária”, sobretudo em virtude da crescente resistência do agente causador da doença aos medicamentos até então usados no combate à patologia.
A Organização Mundial de Saúde incluiu o princípio activo do Coartem (artemisina) na lista de fármacos recomendados no tratamento da malária, o principal problema de saúde pública de Moçambique, onde só em 2005 matou aproximadamente cinco mil pessoas, 30 por cento dos óbitos registados a nível nacional num ano em que 6,3 dos 19 milhões de moçambicanos foram afectados pela doença, responsável, à luz de dados oficiais, por 40 por cento das consultas externas e por 60 por cento de todos os internamentos nas unidades de pediatria, provocados pela forma severa da doença. Por tudo isto, esta semana deslocou-se a Moçambique uma equipa de especialistas da Novartis, que encetou contactos com as autoridades sanitárias. Em causa está um possível acordo para abastecimento, numa base não lucrativa, do mercado moçambicano, quando se estima que a prevalência da malária no país varie entre 40 e 80 por cento na faixa etária dos dois aos nove anos, atingindo os 90 por cento no grupo das crianças com menos de cinco anos.
Depois de, há sete anos, Moçambique ter subscrito uma declaração sobre o compromisso político de combate à malária assinada por outros 44 países africanos, reunidos na Nigéria, e de, na sequência desse acordo, os chefes de Estado e governo daqueles países terem iniciado a implementação de acções apropriadas e sustentáveis para reforçar os sistemas de Saúde e reduzir para metade o peso da malária até 2010, são actualmente 36 os países do continente africano que já adoptaram o Coartem como terapêutica de primeira linha para a doença. Se efectivamente for firmado o acordo de fornecimento do fármaco a Moçambique, o abastecimento poderá contar com apoio do Fundo Global para o Combate à Sida, Tuberculose e Malária ou da iniciativa do presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, contra a doença.
Quando, no final da década de 1990, a Novartis se associou à luta contra a malária, o continente africano vivia uma situação desastrosa na área da saúde pública. Nos últimos anos o parasita transmissor da doença desenvolveu resistência aos antigos tratamentos, em que diversos países tinham depositado total confiança ao longo de anos. O Coartem vem responder a essa angústia. Incluindo um componente que foi usado durante séculos pela medicina tradicional chinesa no tratamento da febre, o novo fármaco funciona ainda com o recurso a um segundo componente que actua de forma diversa do primeiro, vencendo os parasitas que, por qualquer motivo, tenham conseguido sobreviver ao primeiro “ataque” do medicamento. Só em 2006 foram tratadas com o Coartem mais de 62 milhões de pessoas em todo o mundo, estimando-se que o medicamento tenha salvo mais de 200 mil vidas

Carla Teixeira
Fontes: Agência Lusa e Novartis

1 comentário:

ptcp disse...

Um bom artigo mas demasiado extenso. O título também não foi o mais bem conseguido.