terça-feira, 6 de novembro de 2007

Pequena molécula propaga cancro pelo organismo

Cientistas acreditam que microRNA (miR-10b) é agente da metástase

À luz de um estudo publicado na revista «Nature», uma pequena molécula desempenha um papel crucial na metástase (movimento ou disseminação de tecidos doentes de um órgão para outro). Segundo avança a publicação, o próximo passo dos investigadores é descobrir os alvos “para que seja possível determinar o grau de perigo que determinado tumor oferece, como age e como contê-lo.”

Na investigação conduzida por Robert Weinberg, do Instituto Whitehead (EUA) a acção do microRNA é relacionada com a propagação do cancro pelo corpo. “Uma associação (do microRNA) com um dado clínico não é trivial”, considerou a bióloga molecular Dirce Maria Carraro, investigadora do Hospital A.C. Camargo (Brasil), frisando que “é um trabalho muito bom.”

Para testar a ligação, Weinberg e mais dois cientistas analisaram diversos tecidos cancerosos de mama, alguns mais malignos do que outros. De acordo com os investigadores, um microRNA específico, chamado miR-10b, era especialmente evidente nas amostras com grande potencial metastático, ou seja, que lançaram células doentes pelo corpo.

O RNA é um dos principais actores da genética, formado por uma fita de bases químicas. Na forma de mensageiro, carrega as informações do seu primo DNA para fora do núcleo da célula, onde se formam os “tijolos” do corpo, as proteínas. Por sua vez, o microRNA parece um recorte dessa fita: tem apenas cerca de 20 bases. Ainda assim, consegue bloquear o trabalho do RNA mensageiro como sugerem estudos recentes que ligam esta pequena molécula com a morte de células.

Segundo revelou a «Nature», o miR-10b apareceu em 9 de 18 mulheres que tinham um cancro de mama desse tipo, enquanto era quase ausente em cinco pacientes com tipos menos agressivos. A mesma fonte esclarece que o grupo testou a sua teoria em ratos. “Os animais receberam células cancerígenas humanas com o miR-10b, que se espalharam pelos vasos sanguíneos. Por outro lado, quando foram injectadas células de cancro humanas sem a molécula, nenhuma migração aconteceu.”

Os investigadores acreditam que esse microRNA afecta a actuação de um gene chamado «twist», ligado à metástase por outros estudos - inclusive do próprio Weinberg. No entanto, a equipa norte-americana afirma não conhecer exactamente o que acontece dentro das células para produzir comportamentos tão distintos. “É ainda possível que o miR-10b controle alvos adicionais”, referem no artigo.

Weinberg adiantou à «Nature» que descobrir o alvo é o passo seguinte: “Se conseguirmos, será possível determinar o grau de perigo que determinado tumor oferece, como age e como contê-lo.”

Raquel Pacheco
Fonte: «Nature»/NewsTin

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