sexta-feira, 20 de julho de 2007

Exame auditivo neonatal é indispensável na prevenção da surdez profunda

A melhor forma de combater a surdez profunda passa pela realização de um teste auditivo neonatal universal, tal como hoje se faz com o teste do pezinho, que permita detectar precocemente bebés com problemas auditivos graves, pois só assim será possível conseguir uma reabilitação rápida e efectiva. A sugestão parte de um estudo sobre a reabilitação da criança surda, apresentado hoje na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP).

De acordo com o antigo responsável pela Entidade Reguladora da Saúde (ERS), Rui Nunes, "o processo não é dispendioso e permitiria ao Estado poupar os tratamentos mais onerosos e menos eficazes inerentes à detecção tardia da surdez profunda infantil e garantir uma melhor inserção social destas crianças".

O estudo, desenvolvido pela FMUP, através do seu Serviço de Bioética (dirigido por Rui Nunes) e com o apoio do Serviço Nacional de Reabilitação, concluiu que as crianças surdas que frequentam a escola normal estão em desvantagem relativamente às que estudam em escolas especiais. Para Rui Nunes, "esta conclusão aponta para a necessidade de efectuar uma revisão a nível da política do Ministério da Saúde quanto aos exames neonatais e para a urgência de apostar no ensino especial, que se revela muito mais eficaz para o desenvolvimento das crianças surdas, que nos últimos anos tem estado em declínio".

Em análise estiveram dois grupos de crianças surdas com idades compreendidas entre os seis e os 12 anos, sendo que um dos grupos estava integrado no ensino normal e o outro no ensino especial bilingue, onde é ensinada a língua gestual a par da língua portuguesa escrita. Os resultados apresentados pelas crianças integradas no ensino normal são mais fracos ao nível da comunicação, integração social e capacidade associativa e cognitiva, quando comparadas com as crianças surdas integradas no ensino bilingue.

Por outro lado, o estudo revelou também que a falta de uma língua impede estas crianças de compreenderem o que as rodeia, de comunicarem eficazmente e de socializar, o que compromete o seu desenvolvimento e as pode deixar frustradas e ansiosas. Em contrapartida as crianças que são inseridas em escolas bilingues e que dominam a língua gestual vivem mais calmas e mais seguras, estão mais aptas a explorar o meio e a estabelecer relações com os outros e, por isso, desenvolvem-se mais eficientemente.

Para além dos excelentes resultados apresentados pelas crianças em ensino bilingue, o estudo mostrou também que a aprendizagem da língua gestual deve ocorrer o mais prematuramente possível, pois as crianças que iniciaram a aprendizagem da língua gestual com três anos de idade ou menos, obtiveram os melhores resultados.

Rui Nunes propõe que se criem escolas próprias, que integrem surdos e ouvintes, mas que possuam ensino bilingue, que garantem resultados muito melhores para o desenvolvimento de crianças com surdez, contrariamente ao que acontece no sistema educativo português, que integra as crianças surdas nas escolas convencionais, apesar destas não responderem às necessidades comunicativas dos alunos surdos.

"São pessoas com pouca capacidade de reivindicação, pelo que nos cabe a nós intervir junto das autoridades governamentais, chamando a atenção para estas questões”, conclui Rui Nunes que pretende apresentar as conclusões deste estudo aos ministérios da Saúde e da Educação.

A surdez profunda atinge um em cada mil nascimentos e resulta essencialmente de factores genéticos ou da prematuridade do bebé. Em Portugal existem 35 mil surdos profundos e 135 mil pessoas afectadas por deficiências auditivas.

Inês de Matos

Fonte: Lusa

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