segunda-feira, 11 de junho de 2007

Medicamento barato para a epilepsia é negado a milhões de crianças

De acordo com um editorial do British Medical Journal (BMJ) da semana passada, a utilização de um medicamento eficaz, que custa menos de 3 dólares por ano, está a ser negada a milhões de crianças com epilepsia residentes em países em desenvolvimento.

O professor Emilio Perucca, da Unidade Clínica de Farmacologia, do Instituto de Neurologia da Universidade de Pavia, em Itália, adverte organizações governamentais e não governamentais, em países em desenvolvimento, que o tratamento deve estar disponível para todos.

Dos 35 milhões de pessoas com epilepsia que vivem em países em desenvolvimento, cerca de 85% não recebem tratamento algum. Como resultado, acabam por sofrer as consequências nefastas desta condição, os ataques epilépticos, que podem também levar a consequências psicológicas de estigma e discriminação social. Infelizmente, a maior parte destas pessoas, muitas das quais crianças, poderiam ter uma vida sem complicações se tomassem por dia uma dose única de um medicamento (fenobarbital), que custa menos de 3 dólares por ano, cerca de €2,20.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda o fenobarbital como o tratamento de escolha em países de recursos restritos, mas a sua política tem sido questionada devido a preocupações acerca de efeitos comportamentais adversos, particularmente em crianças.

No entanto, um estudo em crianças de Bangladesh, também publicado na semana passada pelo BMJ, não encontrou diferenças significativas nos problemas comportamentais entre o fenobarbital e outro medicamento, a carbamazepina. Apesar de algumas limitações, o estudo providência maior evidência para o suporte do uso do fenobarbital nos países em desenvolvimento.


Segundo o Professor Perucca, o fardo da epilepsia não tratada, em termos de sofrimento humano e social, tem consequências enormes. Ele conclui que um programa de controlo da epilepsia eficaz irá apenas resultar se estiver completamente integrado num sistema de cuidados de saúde dentro da comunidade. Este deverá providenciar não só o abastecimento seguro de medicamentos, com instalações adequadas de armazenamento e distribuição, mas também programas educacionais para profissionais de saúde e para a população em geral.

Paulo Frutuoso
Fontes: BMJ