quarta-feira, 18 de julho de 2007

Sons inaudíveis podem provocar a morte

O ruido de baixa frequência, apesar de parecer inofensivo, é na realidade o motivador da doença vibro-acústica, um conjunto de males que poderão, inclusive, levar à morte dos pacientes. Os sons abaixo dos 500 Hertz, incluindo aqueles de que o ouvido humano não se apercebe, provocam uma reacção defensiva do organismo, face a um ataque com efeitos mais devastadores do que os já comprovados para o stress.

O médico Nuno Castelo Branco, responsável pela designação da doença, explica que a exposição a ruídos de baixa frequência resulta em lesões e formações suplementares de tecido como uma tentativa de o corpo se "equilibrar" depois das agressões sonoras, fabricando colagéneo.

Há mais de 20 anos a trabalhar pelo reconhecimento de queixas de saúde que escapam à maior parte dos meios de diagnóstico, o médico e a sua equipa tiveram no passado mês de Março o primeiro reconhecimento do seu trabalho, quando a Autoridade para as Condições de Trabalho reconheceu 100% de incapacidade profissional a uma hospedeira de bordo.

Profissões relacionadas com a aviação estão mais expostas a ruídos de baixa frequência, mas também os outros meios de transporte são responsáveis pela emissão de ruídos imperceptíveis que afectam o ser humano, para além dos aparelhos emissores de sons e de vibrações, como os electrodomésticos, por exemplo.

Mas os profissionais do ramo da aviação foram de facto o primeiro ponto de partida para a investigação de Nuno Castelo Branco, que observou técnicos de aviões, pilotos e pessoal de cabine, detectando vários casos de espessamento do miocárdio, a membrana que envolve o coração. Com o recurso a broncoscopias foi ainda possível detectar uma tendência para existência de lesões na árvore respiratória dos indivíduos.

Para além destas observações, a equipa de Nuno Castelo Branco tem também seguido de perto duas famílias, directamente expostas a ruídos de baixa frequência, uma de Lisboa, residente a três mil metros de uns silos industriais de armazenamento de cereais e que emitem infra-sons quando em laboração e outra de Torres Vedras, cuja habitação recebe níveis de infra-sons ainda mais elevados , provenientes de geradores de energia eólica.

De acordo com a física Mariana Alves Pereira, uma investigadora envolvida no projecto, ambas as famílias têm revelado problemas de saúde, no entanto, a família de Torres Vedras apresenta também uma mudança de comportamentos no agregado familiar e nos animais domésticos. Estas mudanças comportamentais serão apresentadas em finais de Agosto, num congresso sobre ruído, a ter lugar em Istambul, como alguns dos efeitos associados à doença vibro-acústica.

A infertilidade será a próxima área de investigação da equipa de Nuno Castelo Branco, que se encontra já em fase de projecção de um estudo sobre os efeitos dos infra-sons nesta matéria.

Inês de Matos

Fonte: Jornal de Noticias

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