quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Médicos portugueses estudam voluntariamente taxas de incidência de doenças

A rede “Médicos Sentinela”, constituída por 150 médicos de clínica geral em funções nos centros de saúde nacionais, encontra-se a estudar, voluntariamente, as taxas de incidência de problemas como o enfarte do miocárdio, os acidentes vasculares cerebrais e a interrupção voluntária da gravidez.

Em actividade desde o final da década de 80, a rede pretende dar resposta a três objectivos principais: estimar taxas de incidência de algumas doenças, fazer uma vigilância epidemiológica das doenças que afectam a comunidade, de forma a identificar precocemente eventuais "surtos", e constituir uma base de dados que possibilite, em qualquer momento, a análise epidemiológica aprofundada de doenças com interesse para a saúde pública.

O modo de funcionamento da rede é simples, são os médicos dos centros de saúde que comunicam voluntariamente situações de doença que interessem estudar. “Quando aparecem novos casos de doenças que estão em estudo, os médicos notificam-nos”, explica Isabel Falcão, responsável pela rede.

De acordo com a responsável, este ano os médicos estão a estudar a prescrição de antibacterianos, os acidentes vasculares cerebrais (AVC), as consultas médicas ao domicílio, as consultas relacionadas com a doença pulmonar obstrutiva crónica, bem como o aborto a pedido da mulher até às 10 semanas de gravidez.

“Este ano, por exemplo, estamos a estudar a prescrição de antibacterianos, que já tinha sido analisada há quatro ou cinco anos, para comparar os padrões de prescrição”, adiantou a responsável.

Para além destas situações, a gripe é uma patologia estudada anualmente. “No ano passado, a nossa análise permitiu às autoridades competentes determinarem o alargamento de horário dos centros de saúde durante o período de surto gripal”, exemplificou Isabel Falcão, alertando para a importância de “determinar o início do surto”.

A maior parte das doenças são estudadas durante pelo menos dois ou três anos consecutivos, mas há casos de patologias ou problemas em que o estudo é feito com um intervalo de tempo de vários anos para permitir comparações.

“Aliado ao facto de não existirem em muitos casos outras fontes de informação, a grande vantagem dos estudos é que reflectem a informação transmitida pelo próprio médico”, declarou.

Contando com a colaboração de 150 médicos de todo o pais, ilhas inclusive, a rede começou em 1989 apenas no distrito de Setúbal e foi-se alargando, estando agora representados todos os distritos do país. Contudo, para a responsável a quantidade de médicos disponível não é totalmente representativa da população portuguesa, ainda que as suas comparações entre a população estudada e a portuguesa sejam “razoavelmente significativas”.

A importância dos estudos da rede de médicos sentinela vai ser debatida esta quinta-feira, em Lisboa, num fórum promovido pelo Hospital do Futuro, que visa promover discussões sobre políticas e questões ligadas à área da saúde.

Inês de Matos

Fonte: Diário de Noticias, Lusa, Destak, ONSA

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