quarta-feira, 27 de junho de 2007

Tribunal nigeriano recusou anexar mais casos ao processo
Pfizer vence primeira batalha judicial


O tribunal encarregado do julgamento do processo interposto pelas autoridades da Nigéria contra a multinacional farmacêutica Pfizer, acusada de ter realizado testes não autorizados de um medicamento experimental em 200 crianças nigerianas, das quais 11 morreram, recusou ontem um pedido da acusação no sentido de anexar mais queixas contra a empresa.



Tal como o farmácia.com.pt oportunamente noticiou, o governo nigeriano demanda avultadas indemnizações para os familiares das crianças que foram mortas ou que acabaram por ser seriamente penalizadas na sequência da submissão aos testes do medicamento Trovan Floxacin, que segundo fontes judiciais causou a morte de 11 dos cerca de 200 menores e motivou, entre os que sobreviveram, complicações como surdez, paralisia, transtornos da fala, lesões cerebrais e cegueira.
A acusação alega que, em Abril de 1996, quando grassava no país uma epidemia de meningite bacteriana, sarampo e cólera que assombrou particularmente a região de Kano, a Pfizer terá “engendrado um esquema” para “deformar e esconder as suas principais intenções”, e usando como pretexto o desejo de ajudar no apoio às vítimas, testar os efeitos do fármaco. No documento apresentado a tribunal lê-se ainda que a empresa farmacêutica “nunca revelou que tinha intenção de realizar experiências com as vítimas vulneráveis ou qualquer teste clínico sem a aprovação das agências reguladoras da Nigéria”, afirmando sempre que “pretendia fornecer ajuda humanitária”.A Pfizer, por seu turno, rejeitou sempre, e liminarmente, qualquer alegação de erros éticos, recusando responsabilidades desde que o escândalo estourou, em 2000, e assegurando, pelo contrário, que a administração da “trovafloxacina permitiu salvar vidas”.
O laboratório garante que, “naquela altura, a trovafloxacina estava na última fase de desenvolvimento clínico” e “tinha já sido avaliada em cinco mil pacientes”, e assegura que os jovens pacientes concordaram com a realização dos testes, que foram explicados aos pais em inglês e haussá, línguas faladas na região. Uma afirmação desmentida por Hassan Sani, pai de uma menina que foi submetida aos testes, que asseverou “nunca ter suspeitado de que as crianças estavam a ser usadas numa experiência”.

Carla Teixeira
Fonte: BBC News, Jornal de Angola, Último Segundo

1 comentário:

Rui Borges disse...

Excelente Carla.

Correcção:

"farmacia.com.pt", e não, "farmácia.com.pt"