sexta-feira, 6 de julho de 2007

Em crianças e jovens que sofrem de alteração genética
Nova terapia poderá evitar cegueira


Uma nova terapia genética, cujos primeiros ensaios clínicos tiveram lugar no último mês de Fevereiro em Inglaterra, poderá ser a resposta para prevenir, em crianças e jovens, a cegueira provocada por mutações no gene RPE65. Uma descoberta feita ao abrigo do projecto europeu Evi-Genoret, iniciativa que integra o Six Framework Programme (FP6) da União Europeia, que terminou em termos de financiamentos, ainda que continue a decorrer a pesquisa e implementação dos projectos apoiados. Entre 2007 e 2013 vigora o programa europeu de investigação FP7.

Não obstante os grandes avanços clínicos e terapêuticos conseguidos ao longo dos últimos anos na área da Oftalmologia, o número de pessoas que sofrem de graves lesões e incapacidades visuais continua a aumentar, pelo que urge encontrar meios para reparar os danos passíveis de recuperação. É que 90 por cento da informação que o nosso cérebro processa chega até ele através da visão. Também por isso, os resultados que vão sendo obtidos na investigação da deficiência visual assumem a maior importância. É esse o caso de um estudo recente do Instituto de Oftalmologia de Londres que reclama ter definido uma terapia para evitar a cegueira em crianças e jovens afectados pela mutação do gene RPE65.
Num encontro promovido há dias pela Comissão Europeia em Paris, o investigador Robin Ali explicou que a experiência pioneira do instituto que representa consistiu na injecção daquele gene nos pacientes que não o tinham e que, por sofrerem de uma alteração genética de transmissão hereditária recessiva – os pais transmitem aos filhos uma doença de que não padecem –, tinham apenas visão central, sendo desprovidos de visão periférica e nocturna. Sem intervenção clínica, estes doentes perdem irremediavelmente a visão por volta dos 20 anos de idade. Os primeiros resultados dos ensaios clínicos agora realizados pelos especialistas do Instituto de Oftalmologia de Londres só deverão ser divulgados publicamente no prazo de 12 a 18 meses.
No entanto, Robin Ali informou que, até ao momento, não houve quaisquer efeitos secundários da terapia experimental, realizada ao cabo de 13 anos de investigação da mutação genética na origem da degradação progressiva da visão nos pacientes acompanhados pelo estudo. O especialista prevê, contudo, que os novos avanços na investigação daquela patologia aconteçam mais rapidamente, uma vez que já foram construídas as bases que, segundo estimou, deverão permitir a definição de um tratamento efectivo e rotineiro para a doença, que se estenderá a outras causas de cegueira, como a idade ou a diabetes. A cegueira provocada por problemas relacionados com o gene RPE65 afecta uma pessoa em cada 100 mil.

Carla Teixeira
Fonte: Ciência Hoje, Evi-Genoret, CORDIS – Sixth Framework Programme