quinta-feira, 26 de julho de 2007

Estudo contradiz declarações dos investigadores da Merck
Risco cardíaco do Vioxx antes dos 18 meses


O risco cardíaco associado à administração do anti-inflamatório Vioxx (rofecoxib), fabricado e comercializado pela Merck, foi detectado muito antes dos 18 meses de utilização do medicamento, de acordo com os dados de um estudo incompleto, mas que desmente recentes declarações da multinacional e dos seus investigadores, por ter aferido aquele risco pouco depois dos sete meses de uso do fármaco.

De acordo com o estudo agora publicado no «New England Journal of Medicine», e que até 2004 – altura em que o Vioxx foi retirado do mercado – acompanhou 2.434 doentes, o risco cardíaco decorrente da utilização contínua do fármaco tem início bem antes dos 18 meses admitidos pela companhia farmacêutica. Na investigação interrompida há três anos, apesar de o tempo médio de tratamento dos pacientes observados se ter ficado pelos 7,4 meses, os cientistas concluíram que o fármaco estaria associado ao aumento da frequência de incidentes cardiovasculares, como dores no peito, enfartes, derrames, coágulos e morte súbita provocada por doenças do coração.
Um porta-voz da Merck reagiu à publicação da notícia no «New England Journal of Medicine» com um aviso: “O estudo não deve ser tomado fora do seu contexto”. De acordo com Kent Jarrell, “é muito difícil retirar conclusões significativas do pequeno número de eventos cardiovasculares ocorridos nesta pesquisa, que foi concluída prematuramente”. A multinacional considera que a investigação agora divulgada é “apenas uma pequena parte da história do Vioxx, e está longe de ser conclusiva”. Opinião diferente têm os autores do estudo interrompido em 2004, para quem ficou clara a associação entre o uso do fármaco e as ocorrências cardíacas.
A equipa liderada por David Kerr, da Universidade de Oxford, no Reino Unido, argumenta que o estudo foi limitado pelo número relativamente baixo de incidentes cardíacos – 15 no grupo tratado com Vioxx, seis no grupo de controlo, que usou um placebo – e pela duração abreviada, mas salienta que “as conclusões sugerem um risco agravado da ocorrência de eventos cardiovasculares e tromboses em doentes escolhidos aleatoriamente para receberem o rofecoxib”, concretizando que o risco existe durante o tratamento e prolonga-se pelos 14 dias seguintes ao seu término.

Carla Teixeira
Fonte: Agência Reuters

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