terça-feira, 31 de julho de 2007

Combinação de fármacos: a proporção exacta no combate às doenças

A combinação de fármacos, isto é, utilizar uma terapia que conjuga a utilização de duas ou mais substancias, é a mais recente tecnologia para combater as doenças. Porém, encontrar a melhor associação de medicamentos é, por vezes, mais uma questão de engenho do que de ciência. Uma empresa privada de biotecnologia diz estar na posse da solução através de uma fórmula que permite combinar a proporção exacta das substâncias desejadas.

A Celator Pharmaceuticals, uma pequena empresa norte-americana de biotecnologia, diz ter desenvolvido uma tecnologia capaz de determinar a proporção exacta na qual os medicamentos actuam na sua plenitude. De acordo com a Celator, o CPX-1, o produto principal da empresa, destinado ao tratamento do cancro colo-rectal em fase inicial, utiliza dois fármacos previamente aprovados, o irinotecano e o floxuridine, numa fórmula que assegura que a proporção ideal é mantida. “Penso que é isso que nos distingue de todos os outros”, frisou Andrew Janoff, director executivo da empresa.

Segundo refere a empresa biotecnológica, nalgumas combinações, existe a possibilidade de certas doses de medicamentos individuais inibirem a eficácia do tratamento. Noutros casos, as doses optimizam o efeito dos fármacos, permitindo-lhes atacar os tumores de forma mais eficiente. Tendo em conta as diferentes taxas de metabolização dos medicamentos, entre outros factores, a Celator consegue determinar a proporção certa e de forma precisa. Porém, “saber a proporção correcta das substâncias que devem ser utilizadas numa terapia de combinação não é suficiente”, explicou Janoff em declarações ao The Star-Ledger. Conforme refere este responsável “é preciso ter capacidade para criar terapias de combinação que mantenham essas proporções em níveis ideais depois de serem administradas aos doentes”.

A Celator está agora a utilizar um sistema que ajuda a manter intacta a proporção certa dos medicamentos sempre que os fármacos para o cancro se encontram no organismo. Esta inovação, no que diz respeito às substâncias combinadas, despertou a atenção de empresas de capital de risco. Brenda Gavin, membro do quadro de directores da Celator, afirma que os resultados pré-clínicos são animadores. Os dados recolhidos através dos ensaios clínicos realizados com ratos, que compararam a utilização de medicamentos anticancerígenos com eficácia comprovada às versões que fixam a proporção correcta produzidas pela Celator, revelaram resultados promissores para o tratamento do cancro colo-rectal e do pâncreas. “São fármacos que se sabe que funcionam”, referiu Gavin, e que, mesmo assim “é possível melhorar”.

No entanto, alguns investigadores na área do cancro preferem não elevar demasiado as expectativas. Até porque a ideia da proporção dos medicamentos é ímpar mas apenas demonstrou resultados em ensaios clínicos preliminares. “Por diversas vezes observámos resultados que funcionavam nos testes laboratoriais mas que não tinham o mesmo efeito nos ensaios clínicos”, sublinhou Susan Goodin, directora do departamento farmacêutico no Instituto do Cancro, em Nova Jérsia.

A Celatror está actualmente empenhada no desenvolvimento de combinações de fármacos para a leucemia mielóide crónica e para o cancro cerebral, do pescoço e pulmonar. Janoff prevê que a tecnologia da empresa possa também vir a ser utilizada noutras áreas terapêuticas.

Marta Bilro

Fonte: The Star-Ledger, Pharmalot.

2 comentários:

Rui Borges disse...

O artigo é muito bom, no entanto o título e o lead passam uma concepção errada. A combinação de fármacos não é de todo uma "tecnologia" recente, é uma prática antiga que levou as autoridades a exigirem aos laboratórios provas de que a combinação de determinadas moléculas aumentava a sua eficácia em relação à toma das mesmas per si.

O resultado foi que o infarmed baniu do mercado inúmeros medicamentos que apresentam associações consideradas inúteis.

Deixo o exemplo do Antigrippine, Bekunis, Bálsamo Nostrum, e do famoso Casfen com AIM (autorização de introdução no mercado) desde 1988.

Neste contexto, parece-me que o conceito de conjugação se refere às terapias anti-tumurais, e isso deve estar bem claro no lead e no título.

xtrelitah disse...

Tem toda a razão. Agradeço o esclarecimento. O desconhecimento da situação fez com que incorresse no erro que referiu. Irei proceder às alterações.