terça-feira, 31 de julho de 2007

Presidente da Associação Nacional de Esclerose Múltipla
"Não aconselharia o natalizumab"

No rescaldo da reintrodução no mercado farmacêutico português do Tysabri (natalizumab), medicamento para o tratamento da esclerose múltipla envolto em polémica desde que, em 2005, foi relacionado com três casos de leucoencefalopatia multifocal progressiva que se revelaram fatais e retirado do mercado, o farmacia.com.pt foi ouvir o presidente da Associação Nacional de Esclerose Múltipla sobre este assunto.

João Casais conhece bem a doença. Com 56 anos de idade e doente há cerca de 37, soube da existência da esclerose múltipla antes de a doença ter sido detectada em Portugal, o que só viria a acontecer em 1988. Diz, entre sorrisos, ser "um dos doentes mais antigos do país". No longo percurso que fez de mão dada com aquela patologia, esteve paralisado três vezes e viu-se forçado a usar cadeira de rodas para se locomover, mas hoje garante estar "normal", não obstante o facto de ter de levar "uma injecção de cortisona dia sim dia não".
Um modo de vida "muito complicado", em que os medicamentos têm "papel fundamental". Segundo explicou ao farmacia.com.pt, "o único medicamento tomável para já é um interferon. Não cura, mas ajuda a reforçar a imunidade. Quando temos surtos, tomamos cortisona, que é um anti-inflamatório que nos ajuda a superar as dores, mas que tem como efeitos secundários uma «pancada» muito forte, com febres e muita transpiração". Ciente de todos os problemas que cercam a vida daqueles doentes, João Casais afirma que é nessa qualidade que entende que "todas as descobertas e esperanças que surgem devem ser utilizadas".
Porém, e falando concretamente da questão da reintrodução no mercado do polémico natalizumab, explica que, "como associação de doentes não aconselharia o uso do Tysabri, porque o que aconteceu com aqueles doentes que morreram é muito estranho". Se não fossem os alegados efeitos secundários, o medicamento da Biogen e da Elan constituiria "o sonho de qualquer doente de esclerose múltipla", mas dadas as circunstâncias, não entende como poderá ser usado. Diz até que, pelo que sabe, "nos hospitais da Região Norte o Tysabri não está ainda a ser utilizado".

Carla Teixeira
Fonte: Entrevista telefónica a João Casais

1 comentário:

Rui Borges disse...

Excelente a iniciativa!