quinta-feira, 14 de junho de 2007

Comparticipação da morfina pode ascender aos 95 por cento

O Inframed pretende apresentar uma proposta para aumentar a comparticipação da morfina “de 40 para 95 por cento” revelou José Castro Lopes, presidente da Associação Portuguesa para o Estudo da Dor (APED) em declarações ao DN. A utilização de analgésicos entre a população portuguesa é muito frequente, porém, opióides como a morfina, mais eficazes no tratamento da dor, são por vezes associados de forma errada às drogas e pouco comparticipados em relação a outros países.

O facto de em Portugal o consumo a administração de morfina ser muito reduzido espelha a falha cultural e a ignorância do país, considera o chefe da Unidade de Dor do Hospital de São João do Porto, José Correia. Para além dos preconceitos existentes em relação ao fármaco, a reduzida taxa de comparticipação contribui para que "muitas pessoas, especialmente com dores mais fortes, não o possam adquirir", acrescentou Castro Lopes.

De acordo com este especialista, "em alguns países, a comparticipação deste medicamento chega a 100 por cento, mas cá é de 40 por cento”. Para combater essa situação “o Infarmed vai apresentar ma proposta para elevar a comparticipação ao máximo, que em Portugal é de 95%”, referiu o mesmo responsável.

Segundo notícia o Diário de Notícias, o Infarmed não fez qualquer comentário a esta afirmação, porém admitiu que “o problema está a ser analisado”.

Ainda assim, José Correia salienta que na sua unidade no Porto já há uma elevada administração de opiáceos. Em casos de dor do foro oncológico “todos têm de os tomar e fora desta tipologia já há 10 a 15 por cento dos doentes a tomá-los”, revelou.

Se bem que a tendência seja o começo com doses ligeiras de analgésicos cujas quantidades vão sendo aumentadas, nem sempre o tratamento passa pelos opióides. Os especialistas lembram que os anti-inflamatórios, os relaxantes musculares, os tratamentos por radiofrequência, por bombas de perfuração e a aplicação da toxina botulínica (botox) também podem ser utilizados. Para além disso, a fisioterapia tem uma utilidade fulcral nalguns casos quando combinada com outros tratamentos.

Os contornos da dor

A definição da International Association for the Study of Pain caracteriza a dor como “uma experiência multidimensional desagradável, envolvendo não só um componente sensorial mas também um componente emocional, e que se associa a uma lesão tecidular concreta ou potencial, ou é descrita em função dessa lesão”.

A Associação Portuguesa para o Estudo da Dor explica que a dor não é apenas uma sensação mas sim um fenómeno complexo que envolve emoções e outros componentes que lhe estão associados, devendo ser encarada segundo um modelo biopsicossocial. Cada pessoa sente a dor à sua maneira e não existem ainda marcadores biológicos que a permitam caracterizar de forma objectiva.

Não existe relação directa entre a causa e a dor, isto é, uma mesma lesão pode causar diferentes tipos de dores em indivíduos distintos ou num mesmo indivíduo em momentos diferentes. Nem sempre é possível enquadrar a dor com a existência de uma lesão física que lhe dê origem.

Marta Bilro

Fonte: Diário de Notícias, Associação Portuguesa para o Estudo da Dor

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