quinta-feira, 14 de junho de 2007

ENTREVISTA

Filomena Cabeça em entrevista ao «Farmácia e Medicamento»
“Liberalização não será a Ota da Saúde”

Lidera a lista A na corrida ao cargo de bastonária da Ordem dos Farmacêuticos que no dia 21 se decide nas urnas. Aponta como prioridades a dignificação e a coesão profissional, e considera ter “todas as condições” para “puxar a Ordem para cima” e valorizar o papel do farmacêutico. A meio de um périplo “fisicamente esgotante mas emocionalmente compensador” pelo país, Filomena Cabeça mostra-se optimista na vitória e diz “acreditar no bom-senso do Governo” para, através do diálogo, resolver o diferendo relativo à lei de liberalização da propriedade das farmácias.

FM – Porquê uma candidatura à liderança da Ordem dos Farmacêuticos nesta altura?
FC – Candidatei-me porque acho que os desafios que estão a desenhar-se na área da Saúde em geral e na área farmacêutica em particular são motivadores. Já tenho uma longa experiência profissional como farmacêutica hospitalar e estou ligada ao associativismo há mais de 12 anos. Estou consciente das dificuldades e dos muitos desafios, mas senti que esta candidatura é a aposta de uma equipa de profissionais que se revêem nos mesmos objectivos e princípios. Chegou por isso o momento de dar um passo em frente…

FM – De que forma pretende então dar esse passo em frente? Quais são os grandes objectivos da Lista A? Como será a «sua» Ordem dos Farmacêuticos?
FC – A solidez científica da nossa profissão e o nosso grande dinamismo conferem uma garantia de qualidade ao serviço que prestamos. Elegemos, no âmbito desta candidatura, vários pontos fundamentais: a coesão profissional, o reconhecimento da competência no exercício farmacêutico, a regulação da profissão, o papel da Ordem na representação da classe, a diferenciação profissional e a aposta forte nos jovens quadros são os temas mais prementes no actual contexto.

FM – A proposta de lei para a liberalização da propriedade das farmácias é o tema quente em cima da mesa actualmente. Que comentário lhe merece esta intenção do Governo de permitir a qualquer cidadão ser proprietário de um espaço que é de saúde?
FC – Não há dúvidas de que estamos perante um novo paradigma na área da Saúde e na nossa profissão. A salvaguarda do pendor farmacêutico no âmbito da farmácia comunitária não pode, no entanto, ser posto em causa. A reserva de propriedade do farmacêutico tem de prevalecer, qualquer que seja o modelo de farmácia a adoptar no futuro. O profissional de Farmácia é um facilitador do acesso à saúde e tem a confiança dos cidadãos. Defenderemos sempre acerrimamente a reserva de propriedade exclusiva do farmacêutico, e não abdicaremos das nossas convicções nessa matéria. Preconizamos a independência e a autonomia dos farmacêuticos, contra quaisquer interferências na ética e na deontologia destes profissionais.

FM – De que forma é que isso poderá ser feito, estando o Governo tão decidido a avançar com a liberalização? Ainda há tempo para travar o processo?
FC – Temos estudos científicos objectivos e pareceres de especialistas que dizem que a reserva de propriedade do farmacêutico é uma mais-valia para a saúde pública. São provas científicas que pretendemos continuar a demonstrar. Estou perfeitamente convicta do bom-senso do nosso governo. Temos um exemplo bem recente da abertura do poder político. A liberalização da propriedade das farmácias não será a Ota da Saúde. Não queremos que se transforme nisso. Noutras áreas o Governo deu provas de sensibilidade, de que há condições para um diálogo franco e aberto…

FM – Está então convicta de que ainda é possível reverter a intenção da tutela?
FC – Estou absolutamente convicta do bom-senso do Governo e de que é possível reverter a situação, pela via do diálogo e da negociação.

FM – Outro ponto do seu programa eleitoral tem a ver com a captação dos jovens farmacêuticos. Como pretende atraí-los?
FC – A Ordem dos Farmacêuticos é de todos os profissionais da classe. Queremos que, através do que defendemos nas diferentes plataformas de diálogo entre todas as áreas de actividade, seja facilitado a cooperação a todos os níveis. Queremos falar todos a uma só voz, em sede própria, que é a Ordem. Para isso temos de encontrar pontos e realizar acções que tornem reconhecida a importância da OF para os profissionais. A nossa profissão é muito jovem – a média de idades dos farmacêuticos portugueses anda à volta dos 40 anos –, mas os mais jovens é que são os farmacêuticos do futuro, e é preciso ouvi-los e integrá-los, para que sintam que, quando forem chamados a tomar o nosso lugar, estão motivados para a nossa luta.

FM – No programa eleitoral da lista que lidera é apontado um projecto concreto: o «Farmacêuticos 2020». Pode concretizar melhor o que é este projecto, e quais os seus objectivos essenciais?
FC – É um projecto para o futuro, planificando aquilo que queremos que seja a nossa profissão. No fundo é procurar elencar os objectivos para os próximos anos no âmbito da actividade farmacêutica, tendo em conta a miscelânea de idades e de experiências que encontramos nas diversas áreas de actividade do nosso sector.

FM – A candidata da Lista B, Irene Silveira, defende a revisão do actual processo de revalidação da carteira profissional, que considera injusto e inadequado. Não é da mesma opinião…
FC – Temos um contrato-programa que vamos assumir com os farmacêuticos que votarem em nós, numa primeira instância, e depois com todos os outros. O nosso programa defende a diferenciação profissional. Entendemos que a revalidação da carteira profissional deve dar a garantia do reforço de competências dos nossos quadros e do empenho contínuo na busca da confiança dos nossos utentes. Nesta área a evolução científica é constante, e os farmacêuticos têm de actualizar os seus conhecimentos permanentemente. A formação contínua é, nessa medida, um aspecto essencial, e a revalidação da carteira profissional pode demonstrar isso mesmo, aferindo, a cada cinco anos, que estamos empenhados na melhoria dos serviços que prestamos à sociedade. Há três anos que desenvolvemos um projecto de formação com três ciclos: há 6625 colegas em processo de revalidação, e foram já realizadas 9983 acções creditadas. Noventa por cento dos 1604 formandos que estão actualmente no primeiro ciclo têm pelo menos uma actividade creditada. Têm cinco anos para apresentar os seus créditos, e nós apontamos como média três por ano.

FM – Como encara as críticas a esse novo processo de revalidação?
FC – É um processo novo, como diz, e nessa medida é natural alguma resistência à mudança, mas as pessoas vão aderindo a este processo de formação contínua e de aquisição de competências. É um processo inclusivo, com o qual entendemos que será possível puxar a Ordem para cima e mostrar à sociedade o empenho da nossa classe na constante evolução profissional. Com base neste esquema, a OF poderá afirmar a qualquer momento a competência e actualização de todos os seus membros. Obviamente todas as medidas têm alturas de implementação, de avaliação e de melhoria, e depois de algum tempo de aplicação deste processo está na hora de procedermos a essa avaliação. Para isso contamos com as críticas e as sugestões de todos os colegas. É nessa medida que estamos a percorrer o país e a ouvir os profissionais. Visitamo-los e chamamo-los a reuniões para debater os problemas e as soluções.

FM – Está convicta da vitória no dia 21?
FC – Estou. Se assim não fosse não me teria candidatado. Estou certa da justeza do projecto da equipa que lidero, que apresentou ideias concretas e que queremos assumir. Assumimos um compromisso com os membros da OF, de que poderão pedir-nos responsabilidades mais tarde. No que diz respeito à equipa e ao projecto, estão reunidas todas as condições para vencermos e melhorarmos a nossa Ordem.

Carla Teixeira
Fonte: entrevista à candidata
Imagem: «Farmácia e Medicamento»

1 comentário:

ptcp disse...

Uma excelente iniciativa mais uma vez. Uma pequena ressalva, quando se referir ao portal identifique-o como farmacia.com.pt. Consulte o aviso no topo da página.