O modelo de negócio da indústria farmacêutica é “economicamente insustentável”, refere um relatório divulgado na quinta-feira pela consultora PricewaterhouseCoopers. O estudo sugere que a forte aposta das empresas farmacêuticas num núcleo reduzido de medicamentos, na esperança de obterem um grande volume de vendas, é um reflexo da sua “incapacidade operacional” para agirem de forma suficientemente rápida na produção de tratamentos inovadores, exigidos pelos mercados globais.
Steve Arlington, o principal responsável pela investigação, considera que as empresas farmacêuticas gastam o dobro do tempo necessário para levar a cabo uma investigação comparativamente com o tempo gasto há 10 anos. No entanto, a produção dos medicamentos foi reduzida a metade: entre 40 e 45 por cento dos ensaios clínicos realizados em fármacos na fase 3 falham.
As acções das empresas farmacêuticas não obtiveram bons resultados, as vendas e os custos publicitários aumentaram, assim como as restrições legais e regulamentares, a reputação da indústria têm sido manchada por casos mediáticos como o do Vioxx, o analgésico da Merck que já foi alvo de milhares de processos judiciais.
As entidades que prestam cuidados de saúde e os utentes estão ansiosos para reduzir os gastos com tratamentos. As pessoas vivem mais tempo mas não necessariamente de forma mais saudável. Este facto conduz a previsões que indicam que, em 2020, o mercado farmacêutico global deverá obter mais do dobro da sua facturação, ascendendo aos 9,76 biliões de euros (1.3 biliões de dólares norte-americanos).
Os responsáveis pelo estudo aconselham a indústria farmacêutica a mudar para tirar partido destas novas oportunidades, direccionando os seus investimentos mais para a investigação e menos para as vendas e marketing. “A indústria farmacêutica deve concentrar-se principalmente no desenvolvimento de medicamentos para a prevenção ou cura. De qualquer forma, os fármacos terão que demonstrar benefícios reais e lidar com as necessidades médicas ainda não preenchidas”, salienta Arlington.
O relatório elaborado pela PricewaterhouseCoopers vai mais além ao afirmar que a indústria farmacêutica precisa de se unir a outros “parceiros de peso” – governos, pacientes e investidores – para discutir a melhor forma de seguir em frente.
Steve Arlington sugere, por isso, que a protecção sobre as patentes dos medicamentos, que actualmente vigoram por 20 anos, sejam prolongadas por um período mais extenso de forma a incentivar as empresas a produzirem mais fármacos inovadores e a vendê-los a um preço mais reduzido.
Uma das sugestões apresentadas pelo especialista é a expansão do campo de escolhas das pesquisas preliminares para a Ásia, por exemplo, onde a investigação é menos dispendiosa. Outra das hipóteses passa por aumentar a colaboração com académicos.
Ainda assim, existem alguns indícios de que as empresas farmacêuticas estão a começar a mudar os seus modelos de pesquisa. A GlaxoSmithKline, por exemplo, inaugurou recentemente uma clínica de imagiologia no valor de 74 milhões de euros (50 milhões de libras), no Hammersmith Hospital, em cooperação com o Imperial College e o Conselho de Pesquisa Médica. O objectivo é utilizar o novo complexo como plataforma de troca de conhecimentos entre académicos na utilização dos últimos avanços em imagiologia de forma a perceber melhor as doenças e como tratá-las, acelerando o desenvolvimento de novos fármacos.
Para que as mudanças sejam exequíveis, a indústria tem que se movimentar rapidamente ou enfrentar uma nova ronda de fusões e aquisições por parte das empresas líderes de mercado, caindo nas mãos dos privados.
O mesmo relatório diz ainda que há sete países que poderão ser responsáveis por um quinto da receita global de medicamentos até 2020, relativamente aos oito por cento registados em 2004: Brasil, China, Índia, Indonésia, México, Rússia e Turquia. A China sozinha poderá ser o segundo ou terceiro maior mercado do mundo, previu a consultora responsável pelo estudo.
Os proprietários e as patentes
Em 2012, altura em que expiram algumas das patentes mais importantes, as principais empresas farmacêuticas deverão perder entre 14 e 41 por cento das receitas actuais. A Pfizer terá que enfrentar o fim da exclusividade sobre a patente do Viagra e do Lipitor, o medicamento mais vendido no mundo, o que se traduzirá na perda de 41 por cento das suas receitas. Por sua vez a AstraZeneca deverá perder 38 por cento das suas vendas, enquanto que a GlaxoSmithKline vê expirar, em 2012, as patentes dos seus dois fármacos mais bem sucedidos, o Advair (comercializado em Portugal com o nome Eustidil) e o Avandia, estando previstas quebras nas receitas na ordem dos 23 por cento.
Marta Bilro
Fonte: Prime Newswire, The Guardian Unlimited, Financial Times, MSN Money, msnbc.com
1 comentário:
Excelente Marta. Um artigo de destaque.
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